Via Campesina dá largada em suas atividades no FSM

2006-01-25 00:00:00

A Reforma Agrária deve ser uma política pública, um compromia Campesina dá largada em suas atividades no FSM

Cristiane Gomes / Minga Informativa/ MST

A Reforma Agrária deve ser uma política pública, um compromisso de
estado. Para que isso aconteça é preciso que os movimentos sociais
pressionem o poder público. Entretanto, não basta apenas democratizar a terra.
É preciso também mudar o modelo agrícola que privilegia apenas os
representantes do agronegócio. Estes foram alguns dos assuntos discutidos
hoje na primeira atividade organizada pela Via Campesina no VI Fórum
Social Mundial.

Os problemas relacionados ao som (que foram resolvidos à tarde), não
impediu que os participantes discutissem a atual conjuntura
latinoamericana no que diz respeito à reforma agrária.

"Há dez anos, com a implementação do neoliberalismo, muitos acreditavam
que o processo de reforma agrária havia chegado ao fim. Porém, hoje
percebemos que a resistência e a luta dos povos na América Latina continua
mais firme do que nunca", afirmou Rafael Alegria, coordenador
internacional da Via Campesina. Segundo ele, a luta pela terra no território
latinoamericano é permanente. "Uma mostra disso é que a FAO (Organização
das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação) convocou para abril,
em Porto Alegre, no Brasil, a II Conferência Internacional de reforma
agrária.

Jaime Amorim, da coordenação nacional do Movimento Sem Terra (MST) do
Brasil, afirmou que as mudanças politicas em curso na América Latina,
aliado ao espaço que vem sendo construído pela Via Campesina
Internacional, está provocando um otimismo nos movimentos do campo. "Nunca tivemos
tanto espaço para discutir a luta pela terra. Mas é preciso lembrar que
não podemos ficar esperando que o governo faça a reforma agraria,
porque ela é fruto da organização da classe trabalhadora e de muita luta
social".

O estado é importante no processo de reforma agrária porque só ele é
capaz de desapropriar os latifúndios e democratizar a terra, além de
mudar o modelo agrícola e econômico. Mas, novamente, é preciso destacar que
a pressão popular é fundamental. "Mesmo com Chávez na Venezuela e
Morales na Bolívia o povo tem que se articular e se mobilizar de uma maneira
autônoma para exigir a Reforma Agrária. Ela nao pode ser vista como uma
política compensatória para resolver problema de pobre. A
democratizacao da terra é um projeto de desenvolvimento que vai beneficiar toda a
sociedade", destacou Amorim. A populacao urbana deve perceber que a
mudança no modelo agrícola não interessa apenas aos habitantes das zonas
rurais. Afinal os alimentos consumidos na cidade são produzidos no campo.

Apesar da conjuntura favorável na América Latina, alguns países sofrem
com a repressão do governo aos movimentos sociais, como no caso da
Colômbia. Mabel Andrade da ANUC-UR (Associação Nacional de Usuários
Campesinos Unidade e Reconstrução) destacou que o processo de reforma agrária
em seu país está sendo duramente reprimido e os camponeses, deslocados
de suas terras. "Os meios de comunicação atuam de forma direta na
criminalização das lutas, mas mesmo com esta situação as famílias camponesas
seguem se mobilizando. E os jovens estão tendo um papel fundamental
neste processo".

O debate com os participantes da atividade significou um importante
espaço de troca de experiências entre os diversos países da América
Latina.

O processo de discussão e luta pela terra segue com toda a força na
América Latina. E a articulação internacional dos movimentos sociais é de
grande importância para isso. "O capitalismo é global, por isso a
organização dos camponeses também precisa ser assim. É por isso que eu digo
que no presente e no futuro, a vitória é nossa e não das oligarquias",
finalizou Rafael Alegria.