A disposição das cadeiras, a atenção do público e a luz escura poderia até lembrar um cinema, mas a exibição de "Diários de Motocicleta", no último dia 28, no acampamento Internacional da Via Campesina, durante o Fórum Social Mundial, foi, simbólicamente, muito mais do que a sessão de um filme.

Na platéia, mil camponeses do Brasil, Argentina, Paraguai,Ururguai e Chile que, em sua grande maioria, pouco tem acesso ao cinema ou outras formas de arte. Mas também, presentes, Aleida Guevara, médica cubana e filha do personagem principal, Ernesto "Che" Guevara, e o próprio diretor, Walter Salles.

A exibição,viabilizada pelo projeto Rodacine da Secretaria de Estado da Cultura, foi precedida de canções com temas latino americanos, a declamação de uma poesia sobre os valores difundidos por Che. Bandeiras em movimento e palavras de ordem na platéia também demonstravam que a noite era mais especial do que um simples sessão. Antes da exibição, Salles declarou seu interesse es respeito pelos movimentos camponeses, em especial o Movimento Sem Terra. Em agradecimento, recebeu produtos dos assentamentos de reforma agrária.

Recepcionada pelo público em pé, Aleida Guevara lembrou do processo de produção do filme, da confiança conquistada por Salles e descreveu o resultado final como " uma viagem pelas raízes da nossa América Latina".

No dia seguinte, Salles e Aleida visitaram o assentamento Nova Santa Rita, no município homonônimo, na região da Grande Porto Alegre. Segundo Mineirinho, coordenador do setor de cultura do MST, " foi um encontro emotivo entre nós e o Walter Salles, que deixou muitos projetos para o futuro mas, principalmente o início de uma relação de respeito e amizade mútuos".