Acampamento sulamericano da CLOC-Via Campesina discute mudanças climáticas

2010-08-14 00:00:00

Na tarde desta sexta-feria, 13 de agosto, os acampados e acampadas da Via Campesina discutiram os rumos da agricultura e produção de alimento diante do novo cenário climático que se consolida no mundo. “Se o clima mudar completamente, será muito difícil manter uma agricultura no mundo. Mais do que barrar, precisamos reverter os efeitos das mudanças climáticas”, enfatizou Camila Montecinos, da organizaçao GRAIN, do Chile. Segundo ela, a Via Campesina encara como os protagonistas dessa tarefa de barrar as mudanças climáticas, os camponeses e camponesas de todo o mundo. Eles e elas serão os agentes transformadores e responsáveis, através de sua agricultura, por impedir a continuidade desse processo. Isso porque os grandes responsáveis pela emissão de gases poluentes na atmosfera, responsáveis pela sua poluição e trasnformações nos ventos e chuvas, são as grandes indústrias. Os também responsáveis pelo uso indiscriminado de agrotóxicos, que envenenam nossos solos e águas, são os latifundiários e grandes empresas.
 
Além disso, essa agricultura em larga escala objetiva tão somente a exportação, fazendo com que um alimento viaje pelo mundo. Para essa viagem é necessário gasto de petróleo, ao transportar o alimento, de energia para manter este refrigerado, além dos gastos com as inúmeras embalagens que logo após o consumo, irão poluir o meio ambiente. Como as cidades, os estados e os países, não consomem somente o que é produzido em suas regiões, o impacto de todo esse caminho necessário para que o alimento chegue à mesa das pessoas, é imenso. Todo esse sistema de industrialização causa mais da metade da contaminação responsável pelas mudanças climáticas. Assim, segundo Camila, a Via Campesina considera que essas mudanças no clima são ocasionadas pelo atual modelo de produção e consumo no mundo.
 
Já o processo de produção desenvolvido pela agricultura familiar proporciona um impacto muito menor ao meio ambiente. Nessa cultura não são utilizados aditivos químicos, usa-se matérias orgânicas para adubar o solo, que além de preservá-lo, produz um alimento mais saudável. Além disso, o alimento pode ser vendido diretamente ao consumidor, poupando mais desgaste ao meio ambiente, pois diminui o trajeto do alimento até a mesa da populaçao e, ainda, poupa a refrigeração, pois se poderá consumir o alimento fresco.
 
O povo campesino soma cerca de 95% da população rural no mundo, mas possui apenas 1/5 da área rural mundial, mesmo produzindo mais da metade dos alimentos consumidos pela população. “A defesa da agricultura camponesa e indígena nao é apenas um direito, mas uma necessidade para o futuro da humanidade. Seguimos adiante com nossa luta”, finalizou Camila.
 
Modelo de consumo imposto pelo capitalismo destrói o planeta
 
Diego Montón, do Movimento Nacional Campesino e Indígena da Argentina (MNCI), deu continuidade às discussões chamando a atenção dos presentes para o fato de que a matriz de consumo à qual a sociedade é induzida pelas transnacionais, consome mais energia e matérias primas do que o planeta consegue produzir ou reciclar. O país que, sem dúvida, lidera esse modelo é os Estados Unidos da América, cujo consumo exarcebado está deixando o planeta doente.
 
Os camponeses, por sua vez, possuem uma sabedoria ancestral para produzir de maneira saudável e com menos impacto ao meio ambiente. “Temos todo um antecedente de anos e anos, de gerações e gerações, de produção de alimentos em conformidade com a natureza”, ressaltou Diego. Este modelo capitalista vigente está colocando em risco a humanidade e as gerações futuras.
 
De acordo com Montón, o capitalismo tenta se eximir de sua responsabilidade frente à destruição do meio ambiente, com falsas soluções harmônicas com a natureza. Uma delas é o agrocombustível. Entretanto, nao há nenhum sentido nisso já que para produzir cana de açúcar, soja, e demais fontes energéticas, é preciso de maquinário que utiliza combustível fóssil, aditivos químicos e outros elementos que contribuem para a poluição e destruição do meio ambiente.
 
Para a Via Campesina, um ponto central de sua luta é fortalecer a luta campesina, a luta a partir dos territórios, e ter claro os inimigos contra os quais devemos lutar, como as transnacionais. Um outro ponto pelo qual é necessário lutar, é a ideia de que a terra, a água, os bens naturais não são mercadorias. Além disso, é necessário seguir trabalhando e desenvolvendo a agroecologia, somando a ela os conhecimentos ancestrais de produção, acumulados por nossos povos. É necessário seguir na luta pela reforma agrária e para que os governos impulsionem a produção agrícola familiar, através de recursos federais para quem a desenvolve.
 
Para Diego é preciso, também, fortalecer as alianças entre os movimentos sociais, mas não apenas entre os movimentos campesinos, mas com os movimentos e organizações urbanas. “As mazelas que estamos discutindo, como a escassez de alimentos e a destruição do meio ambiente irá atingir e prejudicar a todos e todas, sejam urbanos ou rurais”, completou ele.