Estamos aquí para defender a vida contra o capitalismo
O vice-ministro Planejamento Estratégico da Bolívia, Raul Prada, endossou o tom anti-capitalista da Conferência Mundial dos Povos sobre as Mudanças Climáticas (CMPCC).
Música, apresentações circenses, tendas de diversas organizações, várias atividades autogestionadas, gente de todas as partes do mundo. Com um clima alegre, típico dos Fóruns Sociais Mundiais, e com debates dispersos pela Univalle e no Hotel Regina, na cidade de Tiquipaya, conurbada à Cochabamba, Bolívia, teve início nesta segunda-feira (19) a CMPCC. De acordo com o Ministério de Relações Exteriores do país, cerca de 28 mil pessoas já estão credenciadas e a expectativa é que se ultrapasse os 30 mil participantes nesta terça, quando o presidente Evo Morales fará o ato de abertura oficial da Conferência.
Debates
Pela manha desta segunda, a Assembléia dos Movimentos Sociais, promovido pela Via Campesina, aglutinou boa parte da militância organizada que veio ao evento. Além de servir como espaço de apresentação entre os diversos movimentos e organizações, a assembléia serviu para afinar o tom das reivindicações que serão levadas para a declaração final da Conferência, como a proposta de criação de um Tribunal Internacional de Justiça para Crimes Ambientais. O dirigente do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) do Brasil, Luís Moura, salientou a importância de se opor ao mercado de carbono.
“O mercado de carbono é a commoditie que mais cresce no mundo. Não é a soja, não são os agrocombustíveis. Ou seja, é uma forma perigosíssima de expansão do capitalismo, que vem crescendo rápido e os movimentos nao estão discutindo e, o que é pior, muitas organizações, inclusive indígenas, estao sendo seduzidas pela proposta.”
A Via Campesina promoverá outra assembléia dia 21, quarta-feira, para fechar suas contribuições à Conferência.
Painel oficial
Na parte da tarde, a programação oficial do evento previa o painel “Construindo o Viver Bem: Conquistas dos quatro anos de gestão do Presidente Evo Morales”. Nele estavam Raúl Prada, vice-ministro Planejamento Estratégico da Bolívia, Carlos Villegas, presidente da empresa estatal boliviana de hidrocarbonetos (YPFB), Marvin Molina Casanova, advogado do Ministério de Defesa Legal do Estado boliviano e Alfonso Hinojosa, funcionário do Ministério de Relações Exteriores do país.
A exposição de Raúl Prada destacou como avanço do governo a aprovaçao da nova Constituiçao boliviana, fruto de um encontro inédito na história política do país: “A Guerra do Gás, em 2000, marcou, pela primeira vez, o encontro do projeto indígena, que reivindicava o viver bem, com o projeto popular-nacionalista, que reivindicava a nacionalizaçao dos recursos naturais. Esses sao os substratos políticos que a nova Constituição tratou de articular. Ao final, temos um texto constitucional que prega descolonização do Estado, nega o modelo Estado-nação, nega o Estado moderno, prega o Estado Plurinacional e o viver bem como projeto civilizatório anti-capitalista. E essa conferência serve para sairmos da discussão superficial sobre a crise ecológica, aqui queremos debater o modelo civilizatório moderno ocidental. Estamos aqui para defender a vida contra o capitalismo”.
A CMPCC acontece até quinta-feira (22).