Diário da Brigada de Formação sobre os efeitos destrutivos da Indústria da Cana em Pernambuco

2007-04-17 00:00:00

A Brigada de Formação, formada por cerca de 50 acampados e assentados da reforma agrária tem início na cidade de Araçoiaba, a 65 km de Recife. Toda a região é tomada pela monocultura da cana. Três grandes usinas, Petribu, São José e Santa Tereza, dominam a economia, as terras, e exercem grande poder local.

O resultado é o alto nível de desemprego, pois praticamente não há outras alternativas econômicas a não ser o degradante trabalho no corte da cana durante o período da safra, que dura de quatro a seis meses por ano. Além de diversas violações de direitos trabalhistas, estas usinas são acusadas de despejos, ameaças e até assassinatos de trabalhadores que lutam pela reforma agrária.

Logo na chegada, uma casa de farinha abandonada simboliza o drama dos pequenos agricultores, que perderam suas terras e seu sustento em conseqüência do domínio do latifúndio e da monocultura da cana. A pobreza local é gritante. Crianças sem roupas e sapatos, visivelmente desnutridas, correm pelas ruas. A infraestrutura da cidade é precária: não há esgoto, asfalto, saneamento básico ou água encanada. Este é o padrão de “desenvolvimento” gerado pelas usinas.

Os intermediários ou aliciadores de mão-de-obra escrava circulam impunes pela cidade. Um carro de som anuncia uma “ótima oportunidade” de emprego em Tocantins, onde os trabalhadores desempregados de Araçoiaba teriam direito à “três refeições por dia” e pagariam “apenas” R$70,00 pelo transporte para uma usina naquele estado. Ao serem procurados pela CPT, os agenciadores negaram-se a informar o salário proposto, o nome e local da usina para onde seriam levados os trabalhadores, a data e local de onde sairá o ônibus que irá transportá-los. Fica um alerta para a Delegacia Regional do trabalho e o Ministério Público do Trabalho, que deveriam investigar esta situação.

Mas a luta pela terra continua sendo a única saída para uma vida digna. Essa é a principal mensagem que homens, mulheres e crianças integrantes da Brigada de Formação vieram transmitir para a população de Araçoiaba.

À noite, foi exibido o vídeo “Bagaço”, produzido pela Comissão Pastoral da Terra e pela Rede Social de Justiça e Direitos Humanos, na praça principal da cidade, seguido de um debate dos assentados e acampados da reforma agrária com a população local.

Mais Informações:
Comissão Pastoral da Terra – CPT PE