Marcha de sem-terra forma filas de 5 km na BR-060

2005-05-04 00:00:00

Estrutura impressionante foi montada para a caminhada, a maior do gênero do Brasil, que saiu ontem de Goiânia rumo a Brasília. MST não revela gastos com a organização

A maior marcha realizada por trabalhadores sem terra do Brasil, que teve a largada ontem em Goiânia rumo a Brasília, apresenta dimensões impressionantes. Centenas de ônibus, caminhões, barracas, colchonetes, dezenas de conjuntos de banheiros químicos, tratores, trio elétrico e até uma emissora de rádio própria fazem parte do arsenal organizado para garantir a caminhada pelos 200 quilômetros da BR 153, até Brasília.

Quem passa pela rodovia se surpreende com a grande movimentação. Os participantes da caminhada chegaram a formar filas de 5 quilômetros na BR-060. O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) não revela, entretanto, o valor gasto na organização da marcha. Segundo seus líderes, "não há como contabilizar o valor, por ser recurso diluído entre as delegações".

Os integrantes da marcha têm à sua disposição até mesmo um kit com aparelho de rádio, fone de ouvido, uma mochila com o logotipo do movimento, caderno, lápis e cartilhas sobre a reforma agrária e sobre outras bandeiras do MST, como o combate à Área de Livre Comércio da América Latina (Alca).

No primeiro dia da marcha foram percorridos cerca de 16 quilômetros entre o Ginásio Goiânia Arena e o posto da Polícia Rodoviária Federal (PRF). Na hora do almoço, a primeira remessa de marmitas doadas pelo governo do Estado, por volta das 13 horas, não foi suficiente para os 11 mil sem-terra que estão na caminhada, conforme estimativa da assessoria de comunicação da marcha.

Algumas duplas de "marchantes", como se autodenominam, precisaram dividir a comida até que nova leva de marmitas chegasse, cerca de 30 minutos depois. Assim como a comida, o governo cedeu, entre outras coisas, as lonas, a água e os banheiros químicos.

Deitadas sob barracas de lona, as delegações se espalharam num recuo da pista em frente ao posto da PRF. O local passou por limpeza para abrigar o acampamento gigante. Paranaenses, mineiros, alagoanos, enfim gente do Brasil inteiro podia ser encontrada no local, cada grupo com uma coordenação para orientar sobre as paradas, indicar o local da água transportada pelos caminhões-pipas para consumo e para banho, informar a programação cultural do dia, sugerir debates e estudos, passar os informes e autorizar entrevistas.

Simpatizantes

Delegações de 23 Estados estão participando da marcha, além de simpatizantes ou caroneiros que vão aproveitar a mobilização para defender outras causas. Nesse último grupo, se enquadram 21 operários de um movimento que ocupa fábricas, vindos de ônibus de Joinville (SC). "Queremos que o governo federal estatize as fábricas que foram ocupadas no Brasil e estão sendo tocadas com sucesso pelos empregados", explicou Manoel Jasmo Francisco. Na empresa que onde Manoel trabalha há 28 anos, depois que os empregados assumiram o comando à força, há pouco mais de dois anos, segundo ele, o faturamento subiu de R$ 900 mil para R$ 3,5 milhões. Religiosos também formam uma delegação que apóia a marcha. Jornalistas de outros países e estudantes universitários que estudam ou apoiam o MST engrossam a caminhada.