Brasil: Agricultores são presos a mando do Consórcio construtor
Agricultores Atingidos por Barragem de Campos Novos são presos a mando do Consórcio construtor Enercam
Cinco agricultores atingidos pela Barragem de Campos Novos _ SC, foram presos nas suas casas na madrugada deste dia 12 de março de 2005 e conduzidos ao Presídio da Cidade. Comenta-se na região que há uma lista maior de prisões a serem efetuadas envolvendo outros agricultores, lideranças do Movimento dos Atingidos por Barragens – MAB. Estão presos os agricultores Aurelio Dutra, Carlos Da Silva, Dorneles Chinato, Edio Grasse e Leodato Vicente.
ara o advogado Leandro Scalabrim, “o absurdo do caso é que sequer existe um processo contra os atingidos. É o primeiro caso de prisão preventiva por descumprimento de interdito proibitório que se tem notícia desde os tempos da ditadura militar. O que nos foi relatado pelas famílias é estarrecedor: a policia militar com espingardas em punho, invadiram nossas casas e na presença de crianças, ameaçavam prender as mulheres das lideranças, caso eles não se entregassem”.
As prisões ocorrem justamente nas vésperas da semana do 14 de março onde os atingidos de todo o Brasil e de outros países, comemoram o Dia Internacional de luta contra as Barragens, pelos Rios e pela Água. Em 2004, 23 países realizaram protestos neste dia.
A direção do Movimento dos Atingidos por Barragens reagiu a prisão como sendo uma ação que busca intimidar e impedir as denúncias que o povo tem feito contra a prática das empresas construtoras, na maioria multinacionais, que negam os direitos dos atingidos, principalmente o direito a permanecer trabalhando e tirando seu sustento da terra; praticam fraudes nos relatórios ambientais e cobram preços absurdos nas taxas de energia elétrica. Para Gilberto Cervinski, dirigente do MAB, estas prisões somam-se a presença do exército na Barragem de Tucuruí, onde o Esquadrão de Cavalaria de Tucuruí e o Pelotão de Infantaria de Marabá ocuparam a barragem. O comandante da operação é o general Jairo César Nass que declarou ao jornal O Globo do dia 23 de fevereiro de que “a razão da ocupação é que o serviço de inteligência militar detectou que integrantes do Movimento dos Atingidos por Barragem (MAB) planejavam invadir a usina e cortar a transmissão de energia”. Em Minas Gerais, no início da noite do dia 08 de março uma ação da Polícia Militar de Minas Gerais agrediu violentamente a população que buscava participar de uma audiência pública. Está ação policial deixou 20 atingidos por barragens feridos, entre elas seis mulheres, duas delas estavam grávidas. Jovens e idosos também foram agredidos. Foram levados para a delegacia o Padre Antonio Claret, Joaquim Bernardo, Marta Caetana, Juliana Teixeira e José Vicente. As lideranças ficaram presas até a madrugada e os feridos encaminhados ao hospital. A polícia não permitiu que os feridos fizessem o laudo ou dessem queixa na delegacia do município. Outros casos de violência demonstram que não basta ás grandes empresas tirar a terra dos atingidos, elas usam de todos os mecanismos para calar os que denunciam injustiças. “Não temos dúvida que estas ações são articuladas pelas empresas com apoio de setores da justiça que procuram proteger a exploração dos grandes grupos econômicos contra as populações atingidas, visando o controle da terra, da água e da energia em nosso País” declarou Cervinski.
Em Campos Novos-SC, Tucuruí-PA , Minas Gerais e em outros 12 estados brasileiros o MAB conseguiu organizar as pessoas que estão sendo prejudicadas com esta obra e tem obrigado as empresas a negociar com aqueles que ela negava qualquer direito. Como grande parte da população atingida está ligada a agricultura, a maior reivindicação do MAB é garantir que estas famílias permaneçam na terra produzindo alimentos para seu sustento e para o Brasil. Isto desmascarou a política imposta pelas empresas e a sua reação deve se intensificar ainda mais para tentar garantir que elas possam explorar o povo e as riquezas nacionais sem serem questionadas.
A situação sem dúvida é grave. A prisão foi decretada pela juíza de Campos Novos, Adriana Lisboa, a pedido do Ministério Público, visando impedir as mobilizações de 14 de março.
Solicitamos a todos neste momento o apoio em enviar para o máximo de pessoas, lideranças este comunicado, nas próximas horas faremos contatos passando alguns endereços para enviar cartas para o Secretário de Segurança de Santa Catarina bem com para a Juíza de Campos Novos, exigindo a imediata libertação de mais estes 05 presos políticos da atual ¨democracia ¨.
Águas para vida
Não para a morte.
Lutar sempre, desistir jamais.
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VIOLÊNCIA E DESTRUIÇÃO NA PRISÃO DE ATINGIDOS
Uma criança de sete anos é levada presa com o pai
A prisão de cinco agricultores atingidos por barragem foi marcada por violência e destruição. A prisão ilegal ocorreu no sábado dia 12-03 por volta das 08:00 horas. Nenhum dos agricultores foi informado do motivo de sua prisão.
A polícia militar de Santa Catarina montou verdadeira operação de guerra, com 10 viaturas e policiais fortemente armados para prender os cinco agricultores, desarmados, que estavam em suas casas com a mulher e filhos, e alguns até na lavoura.
Edio Grasse, de Celso Ramos, encontrava-se na lavoura com seu filho de 07 anos quando o batalhão chegou. Teve sua casa revistada e seu carro foi apreendido sob a acusação de que com ele seriam transportados agricultores para as mobilizações do MAB. A criança de sete anos foi levada presa junto com seu pai até a delegacia de Campos Novos. O carro, que foi quebrado pelos policiais durante o deslocamento, foi abandonado numa estrada do interior. A família de Edio ficou isolada porque o carro era o único meio de transporte e moram numa localidade distante, onde não há ônibus.
Leodato Vicente, 70 anos, de Campos Novos, estava saindo com seu caminhão boiadeiro para buscar uma vaca, quando o batalhão chegou e revistou sua casa, causando desordem e estragos, arrombando portas e objetos. Os policiais perguntaram se ele ia transportar gente do MAB nas mobilizações de 14 março e o levaram preso depois de aprender o caminhão. Sua mulher Maria de Lurdes presenciou tudo.
Aurélio Dutra, de Anita Garibaldi, que a poucos dias acertou sua indenização com a ENERCAN sob a promessa de que não seria mais incomodado pela empresa também foi preso. Não bastasse a seca que penaliza os agricultores Aurélio poderá ficar sem crédito para plantar a próxima safra pois necessitava ir no Banco do Brasil amanhã (15/03) para solicitar uma vistoria do PRONAF.
Carlos da Silva, trabalhador rural em Campos Novos foi preso no sítio Pinheiro Seco e algemado. Quando perguntou qual seria o motivo da prisão foi agredido com socos no estômago. Os policiais aprenderam paus que são usados na lida com o gado e perguntavam “Vão se manifestar agora vagabundedo?”. Carlos pediu para trocar de roupa e foi novamente agredido com socos na cabeça e empurrado para dentro de uma Kombi, tendo ficado só com a roupa de corpo e um par de chinelo de dedos.
Dorneles Vicente, de Anita Garibaldi, foi preso em sua casa, enquanto sua filha ainda estava dormindo.
A Policia também recolheu o ônibus que faz o transporte escolar no município de Abdon Batista, sob a justificativa que seria usado para transportar agricultores que iriam na mobilização. No dia de hoje as crianças não puderam ir a escola por falta do ônibus.
Os presos foram transferidos para o presídio de Joaçaba, a 120 Km de Anita Garibaldi, onde seus familiares não têm condições de ir visitá-los e nem lhes levar roupas.
Além dos presos, há uma lista de mais 05 companheiros agricultores com mandato de prisão, são eles:
- Otacílio da Rosa, João Vilmar, Joldemir De Nez, Gilberto dos Santos e Danilo Olterbak.