Ditadura contra atingidos por barragens faz novas vítimas

2005-03-14 00:00:00

Os conflitos entre a polícia e os atingidos por barragens se acentuaram neste ano e no último sábado, agricultores atingidos pela barragem de Campos Novos/SC foram as vítimas mais recentes. Cinco camponeses foram presos durante a madrugada e conduzidos ao presídio da cidade. Outras seis pessoas estão com o mandado de prisão, decretado pela juíza de Campos Novos, Adriana Lisboa.

Para o advogado do Movimento dos Atingidos por Barragens/MAB, Leandro Scalabrim, nem sequer existe um processo contra os atingidos: "É o primeiro caso de prisão preventiva por descumprimento de interdito proibitório que se tem notícia desde os tempos da ditadura militar, isso é inadmissível", afirma o advogado. Ele conta ainda que as famílias estão desoladas: "A polícia militar invadiu as residências com armas em punho durante a madrugada na presença de crianças, e ameaçavam prender as mulheres, caso a lideranças não se entregassem. A maioria das famílias está em estado de choque", conclui.

A direção do MAB reagiu às prisões afirmando com veemência que esta é mais uma ação que busca intimidar e impedir as denúncias que o povo tem feito contra a prática das empresas construtoras de barragens que praticam fraudes nos relatórios ambientais para licenciamento e construção das obras, como aconteceu em Barra Grande, na divisa entre Santa Catarina e Rio Grande do Sul, e negam todos os direitos sociais dos atingidos, principalmente o direito de permanecer trabalhando e tirando da terra seu sustento.

Para Gilberto Cervinski, da direção do Movimento, a ação em Campos Novas não é isolada, soma-se à presença do exército na barragem de Tucuruí, no Pará, e ao ataque pela polícia aos atingidos pela Pequena Central Hidrelétrica (PCH) Jurumirim, em Rio Casca/MG. "Não temos dúvida que estas ações são articuladas pelas empresas com apoio de setores da justiça que procuram proteger os interesses dos grandes grupos econômicos contra as populações atingidas, visando o controle da terra, da água e da energia em nosso país", declarou Cervinski.

A presença do exército em Tucuruí foi anunciada pelo comandante da operação, o general Jairo César Nass, que declarou ao jornal O Globo a presença do exército na barragem, no dia 23 de fevereiro. Já o incidente em Minas Gerais, no início da noite do dia 08 de março, deixou um saldo de seis lideranças presas e 35 feridos pela violenta agressão de policiais por participarem de uma audiência pública a respeito da construção da barragem. Entre os feridos estavam seis mulheres, duas delas grávidas. Jovens e idosos também foram agredidos. A polícia não permitiu que os feridos fizessem o laudo ou registrassem queixa na delegacia do município. Assim como em Tucuruí e em Minas Gerais, além dos atos de violência, lideranças estão sofrendo ameaças de morte também no estado de Goiás.

As prisões ocorrem justamente nas vésperas da semana do dia 14 de março, onde atingidos de todo o Brasil e de outros países, realizam mobilizações em função do Dia Internacional de Luta Contra as Barragens. No Brasil estão previstas ações em vários estados nas próximas semanas, organizadas pelo MAB.

Para abordar estas e outras violações dos direitos humanos das populações atingidas por barragens, a CPT e o MAB, com o apoio do Fórum Nacional hoje (14), será realizada uma Coletiva de Imprensa, às 14 horas, no Centro Cultural de Brasília / Ibrades (Av. L2 Norte - Quadra 601 - Módulo B). Participarão da mesa Dom Orlando Dotti, bispo emérito da Diocese de Vacaria/RS, representando a Comissão Pastoral da Terra; Gilberto Cervinski, da direção nacional do MAB; Gilberto Portes de Oliveira, secretário executivo do Fórum Nacional pela Reforma Agrária e Justiça no Campo; e representantes da Via Campesina do Brasil. Darão depoimento da situação vivida em Minas Gerais, Sônia Maria Oliveira Loschi, ferida no incidente da semana passada, e Joldemir De Nez, atingido pela barragem de Campos Novos.

Contatos:

Alexania Rossato - Movimento dos Atingidos por Barragens - 61.9938-8012

Suzane Durães - Movimento dos Pequenos Agricultores - 61.9267-2051

Cida Lima - Cáritas Brasileira - 61.9989-6509

Laura Muradi - Movimento Sem Terra - 61.9901-1025