Jornada nacional de luta das mulheres camponesas
Reafirma defesa da vida e do Projeto de Agricultura Camponesa
Em 2008, as mulheres organizadas no Movimento de Mulheres Camponesas - MMC demarcaram o 8 de março, Dia Internacional da Mulher, como dia de luta, resistência e enfrentamento ao capital, reafirmando a defesa da vida e do Projeto de Agricultura Camponesa. Na semana de 3 a 8 de março, centenas de mulheres camponesas do Brasil, juntamente com mulheres da Via Campesina brasileira, mobilizaram-se na luta contra o avanço do agronegócio, contra as multinacionais, contra as monoculturas como eucalipto, pinus e acácia negra e contra a violência, exploração e negação de direitos das mulheres. Dentre as atividades desenvolvidas nos diversos estados do Brasil onde o MMC possui organização, citamos:
- A luta contra as multinacionais em Goiás. O estado realizou formação com estudo sobre a situação atual da classe trabalhadora e a luta de classes. As mulheres camponesas também saíram às ruas para denunciar as multinacionais: Votorantin, Bradesco e empresas que produzem as monoculturas da cana-de-açúcar, da soja, dos eucaliptos, dos transgênicos. As mulheres reafirmam sua missão de produzir comida saudável para o campo e a cidade.
- A luta pelos direitos sociais e pela Previdência Pública na Bahia e Paraíba.
- O destaque das mulheres de Roraima e Pará para a importância do trabalho que as mulheres camponesas desenvolvem na construção da soberania alimentar, através da produção de alimentos saudáveis.
- Em Roraima as camponesas organizaram, no dia 8, a oficina “Mulher, Poder e Democracia”, discutindo a participação da mulher na sociedade. Na parte da tarde, saíram às ruas pedindo o fim da violência praticada contra as mulheres, com combate ao tráfico de mulheres.
- A luta contra as carvoarias no Maranhão.
- O resgate da luta e conquistas das mulheres camponesas enfocando a luta de classes e a sociedade patriarcal, feita pelo estado do Paraná, com luta de enfrentamento à multinacional de sementes Syngenta, nos municípios de Santa Tereza do Oeste, Campo Mourão, Ponta Grossa e Londrina. Também ato de denúncia na madeireira Miforte, em União da Vitória, contra o avanço do Deserto Verde no estado.
- A luta pela implantação do Bloco de Notas em Minas Gerais, com enfrentamento a antiga mineradora Vale do Rio Doce, onde as mulheres ocuparam os trilhos de uma das principais ferrovias da mineradora.
- O debate sobre Previdência Pública e a demarcação do território indígena no Espírito Santo.
- A luta pelo Crédito Especial para as Mulheres em Mato Grosso do Sul.
- A denúncia da situação dos/as camponeses/as no estado do Mato Grosso.
- A marcha das mulheres camponesas de Sergipe, Rondônia e Tocantins, pelo fim da violência praticada contra as mulheres com estudo da Lei Maria da Penha.
- A luta contra as multinacionais e o agronegócio no estado de Alagoas e Acre.
- A luta das mulheres do Rio Grande do Sul contra o Deserto Verde em três locais do estado. Na região de fronteira oeste, em Rosário do Sul, onde as mulheres ocuparam uma área da empresa Stora Enso. Na região central, em Encruzilhada do Sul, onde as mulheres realizaram acampamento e ato de denúncia na Empresa Aracruz Celulose. Na capital, Porto Alegre, onde as mulheres realizaram marcha de denúncia com relação à ilegalidade que empresas estrangeiras agem na faixa de fronteira do país. As ações reafirmaram a luta pela preservação da biodiversidade e de defesa da vida.
- A luta das mulheres de Santa Catarina, no dia 7 de março, contra a transnacional de sementes Monsanto. As mulheres fecharam o acesso à empresa de sementes Agroeste, comprada pela Monsanto. Depois, fecharam o trevo de acesso a Xanxerê e fizeram uma caminhada pelo centro da cidade. Na capital, Florianópolis, em torno de 500 mulheres do MMC, juntamente com as Mulheres Trabalhadoras Urbanas, se mobilizaram entre os dias 5 e 6 para cobrar do governo do Estado o cumprimento da pauta entregue em 2007, onde o MMC reivindica:
a) Infra-estrutura: cisternas, hortas, capacitação das mulheres para a produção de alimentos saudáveis e construção de viveiros de plantas nativas.
b) Criação de duas turmas de ensino médio para as mulheres camponesas.
c) Projeto Saúde Alternativa, com capacitação para as mulheres, recuperação de mudas e hortos medicinais.
d) Implantação da Lei Maria da Penha.
Nesta jornada, as mulheres camponesas denunciam o processo de privatização da saúde pública, especificamente do CEPON – Centro de Tratamento das Vítimas do Câncer e do HEMOSC - Centro de Recolhimento de Sangue. Também denunciam os investimentos do dinheiro público com os monocultivos de eucaliptos e pínus, fazendo uma moção de repudio à governadora do Rio Grande do Sul e ao comandante da Brigada Militar pela violência praticada contra as mulheres e crianças que ocuparam a fazenda de propriedade da Stora Enso, multinacional sueco-finlandesa.
As mulheres camponesas do Brasil reafirmam a luta por um novo projeto de agricultura camponesa para o país, com a produção de alimentos saudáveis, com políticas públicas adequadas, com respeito ao ambiente, a biodiversidade e a todas as formas de vida do planeta, na compreensão de que a luta se faz nos espaços públicos e coletivos, mas que continua no privado e cotidiano, todos os dias.