em Pernambuco
Mulheres da Via Campesina ocupam sede da Codevasf
Cerca de 500 mulheres da Via Campesina, do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), da Comissão Pastoral da Terra (CPT) e do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) ocuparam na manhã desta quinta-feira (06/03) a sede da Codevasf (Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco), em Petrolina, sertão de Pernambuco, em protesto contra o modelo de desenvolvimento implantado na região.
Os projetos da companhia beneficiam empreendimentos de irrigação para empresas do agronegócio, como o projeto de transposição do Rio São Francisco, o Pontal Sul, em Petrolina, e o Projeto Salitre, na cidade vizinha de Juazeiro, na Bahia.
Atualmente, o MST tem cerca de 2.000 famílias acampadas nos projetos Pontal Sul e Salitre, produzindo e vivendo nas terras que a Codevasf pretende passar para empresas transnacionais. Por exemplo, o acordo assinado com uma empresa japonesa para a produção de cana-de-açúcar para agrocombustível em áreas irrigadas de Minas Gerais, Bahia, Pernambuco e Piauí.
Uma região, como o Sertão do São Francisco, que é hoje marcada pela agricultura familiar e pela produção de alimentos para o mercado interno, está sendo transformada em uma grande fazenda privada, com produção voltada para os Estados Unidos e para a Europa. Na Zona da Mata, onde mandam os usineiros e os trabalhadores são escravos.
"Tais projetos revelam um modelo de desenvolvimento que mantém a lógica colonialista de colocar nossas terras a serviço dos interesses do mercado internacional. Depois de altíssimo investimento público em infra-estrutura de irrigação (no caso do Pontal Sul já foram investidos cerca de 250 milhões de reais), essa estrutura é privatizada através de acordos de Parceria Publica Privada (PPP)", afirma em nota a Via Campesina de Pernambuco.
Prejuízos para agricultores
Para a coalizão de movimentos camponeses, as terras, a água e toda a infra-estrutura são passadas para as mãos de grandes empresas do agronegócio, que produzem para o mercado externo. Existe até acordos para a produção de cana de açúcar em larga escala na região desses projetos de irrigação.
Os pequenos agricultores e agricultoras que vivem no entorno desses projetos servirão de reservatório de trabalhadores assalariados a serviço das empresas de agronegócio. A tendência é que pequenos agricultores se tornem futuros sem-terra, bóia-frias, desempregados ou até mesmo, cortadores de cana, vivendo sob as condições desumanas como conhece o povo da Zona da Mata de Pernambuco.
Além disso, ao contrário do que prega a propaganda oficial, esses projetos não só não levarão água para a população do Sertão, como afetarão negativamente o abastecimento de água ao público da região. A agricultura irrigada intensiva afeta diretamente o abastecimento de água à população porque diminui a quantidade de água disponível.
As mulheres da Via Campesina estão em luta por soberania alimentar, por um projeto que priorize a produção de alimentos para o mercado interno e que não destrua o meio ambiente. A entidade defende também que as terras e a água do São Francisco devem ser do povo.