Sem Terrinha aprendem e ensinam na Escola Paulo Freire
Flautas, cirandas, capoeira, argila, música, balangandãs, pernas de pau, chocalhos. As brincadeiras da Escola Itinerante Paulo Freire, montada para o 5º Congresso Nacional do MST, refletem a diversidade cultural e o afeto com as crianças, os mais de 600 Sem Terrinha que são acolhidos por cerca de 400 educadores e educadores de todos os estados brasileiros. A baiana Andreza Gonçalves dos Santos, de 10 anos, abre um sorriso enorme quando se diz sem-terra. "Quando a gente mora na cidade, não consegue o que a gente quer. Agora, tudo o que eu quero ter eu estou conquistando", afirma.
"Esperamos que a criança seja um sujeito, que tenha voz ativa na sociedade", explica Cristina Vargas, do Setor de Educação Nacional do MST. Cícero da Silva Júnior, do Pernambuco, é um dos responsáveis pela brigada que cuida das crianças de 09 e 10 anos. Na manhã de terça-feira (dia 12), ele conversou com os educandos sobre o nome da escola: "Paulo Freire foi um grande revolucionário, que trabalhava a educação com o intuito de libertar a classe operária". No processo contínuo de ensinar-aprender, Júnior conta que aprendeu novas brincadeiras de diferentes cantos do país.
História
Em 2007, são celebrados 10 anos de morte de Paulo Freire. O ano marca ainda os 10 anos de ciranda infantil dentro do MST. E em 2006 foi a Escola Itinerante que fez seu décimo aniversário. "A proposta de Escola Itinerante foi idéia dos próprios Sem Terrinha, que reivindicaram seu direito de ter uma escola perto de casa, que acompanhasse a dinâmica de suas famílias", contextualiza Paola Pereira, do Distrito Federal. A primeira experiência de Escola Itinerante foi no Rio Grande do Sul e atualmente ela é reconhecida em seis estados, mantendo sua concepção de educação ligada à realidade das crianças.
Foi justamente essa concepção que encantou Everilda da Silva Santos, da Bahia. Nove anos atrás, ela substituiu uma professora em um acampamento. A professora voltou, Etelvina não saiu mais e hoje coordena uma regional do seu Estado. "A educação do MST é muito diferenciada daquela feita nas cidades. Aqui a gente se dedica, acompanha as crianças. Na cidade muitos professores dão aula só pelo dinheiro, no movimento a gente trabalha por amor", diz.
Durante o Congresso, Everilda se juntou a cozinheiros e cozinheiras dos estados para contribuir na cozinha da escola. Todos os dias, as crianças fazem um lanche pela manhã e outro pela tarde. A Escola conta também com uma equipe de saúde, composta por médico, enfermeiras e auxiliares, da Secretaria de Saúde do Distrito Federal.
Uma escola com princípios
Em maio deste ano, foi realizado um seminário sobre a infância e uma oficina de capacitação para 60 educadores e educadoras. Nesta oficina, depois multiplicada nos estados, foi feito um planejamento diário das atividades, dividido por faixa etária. São sete brigadas, que contemplam as crianças de 0 a 11 anos. A proposta da Escola é trabalhar com as crianças os temas do 5º Congresso, com uma linguagem próxima e lúdica. Uma das oficinas da Escola trabalha a reforma agrária, a partir da concepção dos Sem Terrinha. "É uma forma de ajudar as pessoas que não têm onde morar e não têm o que comer", diz um. "É uma luta que todos nós fazemos", completa outro. Krisleyde Travassas, do Pernambuco, explica que a idéia é discutir temas geradores, como ocupação e reforma agrária. Estudante de pedagogia, ela começou a participar do setor há três anos e diz que mudou sua percepção sobre a relação com as crianças pequenas. "A gente aprende a respeitar seu espaço, seu momento. Se tem uma palavra que aprendi nesses últimos nesses três anos é construção". Mãe de uma Sem Terrinha de 3 meses, ela conta que se sente realizada como profissional e como mãe e que sua experiência no setor lhe mostrou outras formas de educar sua filha.