Modelo agrário é tema principal do terceiro dia de Congresso
O projeto da classe dominante e os efeitos do agronegócio para a agricultura camponesa. Este foi o tema do debate do terceiro dia do 5º Congresso Nacional do MST. Em um verdadeiro “aulão”, a professora da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), Regina Bruno e o membro da direção nacional do MST, João Pedro Stedile refletiram com o conjunto dos 18 mil militantes presentes, um projeto de Reforma Agrária para o Brasil.
A professora Regina Bruno, que faz parte do programa de Pós Graduação de Ciências Sociais em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade da UFRRJ mostrou que há uma “ambivalência” nas práticas e posturas dos latifundiários. Se por um lado, os grandes fazendeiros defendem a modernização da agricultura, usando a tecnologia para o campo, por outro eles se utilizam de métodos atrasados que culminam na exploração do trabalho e na destruição ambiental.
“Eles se dizem a favor do meio ambiente, mas defendem os transgênicos. Possuem uma noção de direito de propriedade sem limite, além de se utilizarem do trabalho precarizado e escravo. Existe uma ideologia senhorial que reforça essa ambivalência de modernidade e atraso”, explicou.
Regina ainda refletiu o conceito de “agronegócio” que, para ela, não é só um simples jargão sobre toda forma de produção e comercialização camponesa. “Agronegócio é uma palavra que está enraizada numa concepção de sociedade, confronto e exploração. Esta palavra designa uma identidade dos latifundiários na sociedade”, disse. A professora ainda considerou como acertada a posição do MST de não fazer nenhum tipo de aliança com esta classe que representa a elite no campo.
No segundo momento, João Pedro Stedile fez um histórico do sistema agrário no Brasil, ao recuperar os capitalistas europeus que vieram ao país ainda em 1500, até a mudança de sistema econômico, quando o Brasil adotou o neoliberalismo a partir da década de 90. Stedile afirmou que a Reforma Agrária, na maior parte dos países que hoje possuem indústria forte, foi realizada como forma de impulsionar a industrialização.
“Nós tivemos três oportunidades de se realizar a Reforma Agrária no Brasil. Uma na década de 30, quando o nosso país começava a sua industrialização. Outra na década de 60, quando tivemos a primeira crise do modelo de industrialização e a última em 1985 no período da redemocratização, em que poderíamos ter impulsionado a indústria nacional, mas a burguesia da época, maioria possuidora de terras, negou-se a realizar a Reforma Agrária”, relatou.
Com o neoliberalismo e, junto a ele, a dominação do capital financeiro, Stedile mostrou o casamento que há, com o apoio do Estado brasileiro, das grandes transnacionais e dos grandes fazendeiros capitalistas. Neste casamento, segundo ele, não há espaço para a agricultura camponesa, pois há interesses divergentes. “Para o camponês, eles colocam três opções: a favela na cidade, as políticas de compensação social, como o Bolsa-Família, ou a integração com as empresas estrangeiras, “o agronegocinho”, explicou.
“Nós temos três formas de se realizar a Reforma Agrária. Podemos seguir as políticas de assentamento do Incra, que não altera a estrutura de propriedade e produção. Ainda podemos voltar com o sonho de Reforma Agrária clássica, para suprir a indústria ou derrotamos o neoliberalismo, onde não se basta somente ocupar terras. Precisaremos do povo brasileiro organizado”.