Para MST fazer Reforma Agrária é possibilitar desenvolvimento humano

2007-06-14 00:00:00

Em um país onde a exploração sobre a classe trabalhadora é cada dia maior, é impossível pensar em um projeto de Reforma Agrária, sem refletir sobre o atual modelo de desenvolvimento do campo. Foi nessa linha que Fátima Ribeiro, da coordenação nacional do MST, desenvolveu o debate na conferência desse terceiro dia de Congresso.

Segundo ela, antes de mais nada é preciso superar o modelo do grande latifúndio, da concentração de terra, que tem sua origem ainda na Lei de Terras (1850) e que persiste até hoje, porém com uma nova roupagem, que funde o antigo latifúndio, o agronegócio e capital financeiro transnacioalizado. “O primeiro passo para a Reforma Agrária é democratizar a terra”, afirmou Fátima.

Mas a distribuição da terra não garante uma transformação real da sociedade. “Nós precisamos de uma Reforma Agrária, que reflita os anseios da população brasileira, que garanta desenvolvimento humano, combinar distribuição de terras com um amplo programa de acesso à educação, à saúde, a uma alimentação saudável”, afirmou.

É nessa linha que o Programa Agrário do MST tem sido debatido ao longo do último período entre os assentados e acampados em todos os 24 estados em que o Movimento está presente. “Nós não queremos um programa que seja feito por uns poucos ‘iluminados’, nós queremos um projeto construído pelas mãos de mulheres, jovens, homens e crianças desse nosso país”, disse.

Mas não é só o problema da concentração de terras que remete ao Período Colonial, a injustiça também é um estigma da nossa história. Segundo o teólogo Dom Tomás Balduíno, “desde que o europeu pisou aqui, começou a injustiça” e até hoje ainda não demos conta de resolver esse problema. “A injustiça não atingiu apenas o homem e a mulher, mas também a mãe-terra”, diz. Segundo Balduíno, promover justiça social é acabar com a desigualdade no campo.

Ele também falou da soberania popular, outro princípio contido no Programa Agrário apresentado pelo MST. “Precisamos construir também a soberania, dos sujeitos e da nossa nação”, afirmou. Segundo ele, o pensamento único imposto pelo capital oprime a classe trabalhadora tanto do ponto de vista econômico, quanto cultural.

Econômico porque impõe um padrão, de sementes, de produção em monocultivo, de consumo, e, cultural porque obriga todos a viverem de forma igual “A soberania é justamente o contrário, é a capacidade de cada um de viver como gostaria, dentro de sua cultura regional. E isso precisa ser respeitado”, afirmou.

Ele também falou da soberania territorial, que vem sendo cada dia mais ameaçada pela compra de extensas camadas de terra por parte de empresas transnacionais.