Dez anos depois, trabalhadores relembram massacre de Camarazal
O lugar já não tem o mesmo nome. Antes do dia 9 de junho de 1997, dia do massacre, o acampamento chamava-se Camarazal, mas hoje em dia o seu nome é Pedro Inácio. Está localizado ao norte da região da Zona da Mata, em Pernambuco. Antes, em 1997, ainda não era nem mesmo um assentamento e só veio a ser depois que dois trabalhadores do MST, Augusto Pedro da Silva e Inácio José da Silva, foram assassinados por 15 pistoleiros, sem que tivessem podido ver os frutos da sua luta. Este capítulo da história do MST – ocorrido numa data próxima ao massacre de Eldorado dos Carajás – ainda não foi solucionado pela Justiça. E este ano completou o seu décimo aniversário.
Testemunha do que ficou conhecido como o “Massacre de Camarazal”, Natalício Cândido da Silva foi um sobrevivente na madrugada quando 15 pistoleiros atacaram o acampamento, atingiram a balas duas mulheres Sem Terra e assassinaram Pedro e Inácio, levando seus corpos dentro de um carro. Os companheiros de Natalício foram encontrados dias depois, atirados no rio Capibaribe, encontrados pelo menos duas cidades à frente do local do crime.
No mesmo ano, em 1997, os trabalhadores Sem Terra conquistaram a desapropriação do que era uma antiga fazenda de engenho, destinada ao plantio de cana. Natalício conta, porém, que o embate continua contra os senhores de engenho locais. Foram desapropriados até o momento 6 engenhos de açúcar, mas ainda existem 16 na região. “O controle está nas mãos do arrendatário, ligado aos usineiros e aos políticos locais”, aponta.
O assassinato dos dois segue vivo na memória coletiva, assim como as balas do crime ficaram até hoje dentro do corpo das companheiras atingidas. Para Natalício, a memória dos companheiros mortos no Massacre de Camarazal é preservada por meio das mobilizações junto ao poder judiciário para pedir justiça. A memória é feita também de minutos de silêncio cada vez que as 79 famílias do assentamento Pedro Inácio celebram uma atividade.