Monocultivo de eucalipto e a violência

2007-06-13 00:00:00

Com o avanço do monocultivo de eucalipto crescem os problemas no campo. Devido ao assédio das empresas, pequenos agricultores acabam arrendando ou vendendo suas terras. Além disso, trabalhadores rurais assentados têm enfrentado problemas de acesso às áreas vizinhas aos eucaliptais, e, por conta da segurança particular contratada pelas empresas convivem também com a violência. Em entrevista, Ivonete Gonçalves, coordenadora do Centro de Estudos e Pesquisas para o Desenvolvimento do Extremo Sul da Bahia (Cepedes), falou que as plantações de eucalipto também têm conseqüências para a cidade, uma vez que, provoca êxodo rural, desemprego e violência.

Quais os principais problemas que vocês têm enfrentado na região do extremo Sul da Bahia?

Nós temos na Bahia, principalmente no extremo Sul da Bahia, um problema muito sério. A gente costuma dizer que nós estamos vivendo uma “bomba social”. As pequenas e médias cidades incharam, a violência está muito grande. Segundo pesquisas que nós (Cepedes) realizamos, as pessoas que foram expulsas do campo e que vieram para cidade não têm como sobreviver na cidade. Elas não conseguem trabalho na cidade, não se adaptam bem. E a pessoa no campo come três vezes por dia, elas não sabem o que é passar fome. Então, nas cidades, elas acabam se envolvendo no crime, nas drogas, e por isso a violência tem crescido muito.

Como que o monocultivo de eucalipto está causando esse êxodo rural?

Isso acontece porque até os pequenos proprietários estão vendendo suas terras para Veracel. Mas tem plantios também de outras empresas em outros municipios. São cinco ao todo na Bahia: Veracel, Suzano Bahia Sul, Aracruz Celulose, CAF e Santa Bárbara. Essas duas últimas tem o plantio menor. Quem domina mesmo é a Aracruz e Veracel, sendo que Veracel também é Aracruz, já que é composta por 50% Aracruz e 50% Stora Enzo, que é uma empresa finlandesa. E a Suzano que fica mais acima, quase ao lado do Espírito Santo. Um dos grandes parceiros dessas empresas era o governo passado. A última licença de dezembro de 2006, licenciava 20 mil hectares para a Suzano plantar sem dizer o local, ou seja, em qualquer lugar que ela quisesse. Isso não existe, isso é ilegal. Inclusive estamos recorrer na Justiça para ver o que vais e fazer.

E quais são os danos ao meio ambiente que você tem percebido lá no Sul da Bahia?

São danos de toda ordem. A começar pela beleza cênica a qual todos nós temos direito, as gerações futuras têm direito. O que a gente vê principalmente é a falta de conectividade da biodiversidade. Hoje o extremo sul está reduzido apenas aos parques, que são três parques nacionais no extremo sul. E esses parques não tem conectividade, o que dificulta a vida de algumas espécies, promovendo, inclusive a extinção de algumas delas. Além disso, a gente já detectou por meio de um estudo realizado nas regiões de Mucuri, Alcobaça, Teixeira de Freitas, Caravelas, o secamento de diversos córregos, rios e nascentes e já têm algumas comunidades sofrendo com a falta d'água. Até pequenos plantios, hoje já estão tendo que ser irrigados, a água está ficando mais difícil.

Existe também o fomento florestal, como ele funciona na Bahia?

O fomento é na verdade outro grande problema, que a gente tem refletido muito sobre como resolvê-lo. Porque eles fazem todo tipo de sedução para os proprietários de terra, pequenos, médios, grandes, para eles não importa, o que importa é plantar o eucalipto. E não é um fomento, porque na verdade eles [as empresas] fazem um contrato com a pessoa, fornecem as mudas, fornecem os venenos, fornecem os técnicos e a pessoa só pode vender para a empresa com a qual assinou o contrato. Então isso não é fomentar. E mesmo assim, a dificuldade maior é que as pessoas ficam seduzidas porque a principio é um dinheiro mais fácil. Depois que passam dois, três anos essas famílias começam a ver que fizeram um mal negócio, nós temos casos assim. Que não rende o dinheiro que eles gostariam e que a Veracel, ou outra empresa qualquer, falou que daria. Esses trabalhadores acabam ficando no prejuízo, porque para voltar a ter outro tipo de cultura nessa terra demora um tempo muito grande. É um prejuízo tanto ambiental, tanto cultural, porque as pessoas saem de suas cidades, ficam pulando de município em município procurando o que fazer. Isso também é um problema, porque as pessoas não se reconhecem, não sabem direito de onde são, não tem pertença, e isso traz também um grande prejuízo para a cultura.

Que tipo de conseqüência esse isolamento dos eucaliptais trazem para os assentamentos da Reforma Agrária ?

Os poucos assentamentos que existem na região, que são quatro, estão ilhados e passam por uma dificuldade muito grande. A gente tem acompanhado um pessoal que mora no município de Itapebi que tem um vida bastante difícil por causa desse isolamento, e como o assentamento fica muito longe das outras comunidades eles têm diversos problemas. Primeiro de acesso. Os plantios têm seguranças particulares das empresas e é uma segurança violenta. É uma segurança que maltrata os trabalhadores. Você não pode entrar, nem passar, nem pegar uma água. E também os problemas com plantios, porque com o isolamento vai crescendo a dificuldade de acesso à água. E os trabalhadores têm muito medo desse isolamento, porque ele realmente causa muita violência ao redor. Onde tem eucalipto tem violência.