Está quase tudo pronto para o 5º Congresso Nacional do MST
Nem o sol a pino, nem a alta temperatura registrada nesse domingo em Brasília preocupou as centenas de pessoas que ajudavam a montar toda a estrutura do 5º Congresso do MST. Aos poucos os barracões de lona começam a ser erguidos, está nascendo a “Cidade de Lona”, onde durante cinco dias, viverão cerca de 18 mil pessoas.
O som das marteladas e o barulho dos ferros sendo arrastados confirmavam: tem gente trabalhando. Entre elas, o trabalhador rural Valdecir Pereira, que deixou em Ribeirão Preto (SP), a mulher e cinco filhos para participar pela primeira vez de um Congresso Nacional do MST. Enquanto montava a grande lona que irá abrigar sua delegação, Valdecir disse que o trabalho vale a pena e é muito gratificante, “porque ao final de todo esse trabalho nós vamos trocar os conhecimentos da nossa região, com o conhecimento de outras regiões do resto do país”.
Enquanto isso no Ginásio Nilson Nelson, cerca de 170 jovens da região Centro-Oeste ensaiavam os últimos passos da mística que abrirá o Congresso. A apresentação vai contar um pouco da história dos outros quatro congressos do Movimento. “Em cada congresso do MST havia uma conjuntura nacional e internacional que será contado durante a apresentação, entre os fatos marcantes, o Massacre de Eldorado dos Carajás”, contou Leniany Patrícia Moreira, do Coletivo de Comunicação de Cultura do MST de Goiás.
Para Leniany, para que não haja nenhum furo, é preciso ensaiar várias vezes, e, por isso é preciso compromisso dos participantes. “Todos têm essa consciência, esse compromisso de que precisa fazer bonito, porque a mística é um momento muito importante do Congresso”. E ela tem razão. Para Divino Custódio de Freitas, do assentamento Canudos em Goiás, “é preciso fazer bonito”, por isso, ele não se importa em entrar noite e madrugada para que tudo saia como planejado.
E os preparativos não param. Nas laterais do Ginásio uma equipe de aproximadamente 50 pessoas faz a montagem das pastas que serão distribuídas aos participantes do Congresso. Nelas, o kit básico com boné, caneta, caderno, a programação do Congresso e um livro da Editora Expressão Popular. Isso sem falar dos textos básicos sobres os temas que serão discutidos durante os quatro dias. Subsídio para os participantes.
Painel de Abertura
Longe do barulho da montagem das barracas e de toda a euforia comum a uma cidade recém inaugurada, o artista plástico do MST da Bahia, Jaotan Xavier, dá os retoques finais no grande painel da abertura. Ele conta que o painel, que tem 10 metros de largura e 15 de altura, começou a ser pintado há uma semana, no dia 4. “Seis artistas do próprio Movimento se responsabilizam pela obra, mas muitas pessoas passaram por alí para dar uma mãozinha, literalmente”, conta.
A arte, que foi desenvolvida coletivamente por vários militantes do MST, é uma compilação de idéias. Uma grande imagem feminina amamenta em seus seios fartos, uma criança encoberta numa bandeira do MST. Essa mãe, que emana da imagem da América Latina ao fundo, é a vida, ou nas palavras do próprio Joatan, é “a mãe-terra, a origem da vida”. Logo abaixo na pintura, pessoas de diferentes origens viram uma espécie de página da história. “é como se fosse uma virada de página. E como se aquelas pessoas estivem colocando pra fora tudo aquilo que as oprime, todo o sofrimento. Ali está o povo”.
Para Joatan, o que garante o sacrífico desses últimos dias de trabalho intenso é saber que no final a arte coletiva irá tocar as pessoas. “A arte não é meramente decorativa, ela tem um conteúdo político, e a grande satisfação é perceber que as pessoas se identificaram com esse objetivo proposto no painel. Então a missão foi cumprida”, conclui.
O painel será estendido nessa segunda-feira, durante a abertura do 5º Congresso Nacional do MST, que começa às 19 horas no Ginásio Nilson Nelson.