Via Campesina e governo plantam árvores nativas pela biodiversidade
A Via Campesina e o governo do Paraná plantaram 2 mil mudas de árvores
nativas da região na manhã desta quarta-feira (29/03), no Parque Newton
Freire, em Pinhais, região metropolitana de Curitiba. O ato intitulado
"Cultivando a Biodiversidade" promoveu a plantação de espécies típicas da
região, como a bracatinga, aroeira, maricá e angico, para ampliar a
biodiversidade local, neutralizar os gases estufas produzidos na COP-8
(8ª Conferência Internacional sobre Diversidade Biológica) e contrapor os
prejuízos sociais e ambientais provocados pela monocultura de pinus e
eucalipto.
Além dos cinco mil camponeses acampados no parque, participaram da
cerimônia o governador Roberto Requião (PMDB) e secretários de governo, o
integrante da Via Campesina João Pedro Stédile, o secretário de
Biodiversidade e Florestas do Ministério do Meio Ambiente, João Paulo
Capobianco, e o secretário-executivo da COP-8, Ahmed Djoghlaf, da
Argélia. O teólogo Leonardo Boff também acompanhou a cerimônia, que
festeja o plantio de 40 milhões de árvores nativas pelo Programa Mata
Ciliar, do governo do Paraná.
Para Requião, o ato mostra o comprometimento do governo estadual em
conservar a biodiversidade e estimular a sua recuperação. Para isso, são
utilizados os próprios recursos da natureza e não elementos externos,
como o pinus e o eucaliptos na área florestal e os transgênicos, na
alimentação. "Se continuarmos assim, chegaremos a ponto de ter para comer
somente uma torta de milho, de soja e de trigo, porque a biodiversidade
terá acabado", afirma.
Nesse sentido, Requião elogiou promovido pelas mulheres da Via Campesina
no laboratório hortoflorestal da empresa Aracruz Celulose, no município
de Barra do Ribeiro, no Rio Grande do Sul, em 8 de março, Dia
Internacional das Mulheres. Na ocasião, duas mil camponesas ocuparam o
local e destruíram mudas de eucalipto, em protesto ao avanço da
monocultura destas árvores. "A ação das mulheres no Rio Grande do Sul foi
positiva, porque denuncia a desertificação provocada pelo 'deserto verde'
e as investidas das multinacionais no país", argumenta.
João Pedro Stedile, da direção nacional do MST (Movimento dos
Trabalhadores Rurais Sem Terra), aponta que a Aracruz possui, somente no
Brasil, 300 mil hectares de pinus e eucalipto plantados. "Para obter toda
essa terra, ela roubou 8 mil hectares de índios guarani e desalojou 10
mil quilombolas", conta. "Ninguém diz que o eucalipto e o pinus, que são
plantas industriais, não produzem nada. Até pelo contrário, destroem os
recursos de água e a diversidade de fauna e de flora", completa.
Ahmed Djoghlaf, secretário da COP, disse que no final da CDB (Convenção
de Diversidade Biológica) serão plantadas 8 milhões de mudas de árvores
nativas em parceria com o governo do Paraná.
João Paulo Capobianco, secretário de Biodiversidade e Florestas do
Ministério do Meio Ambiente, ressaltou a importância de toda a sociedade
assumir o debate da conservação da biodiversidade no país. "A proteção da
biodiversidade não é frescura de ambientalista, como muitos dizem. É a
necessidade básica para o futuro do país", afirma. Ele destacou como
fundamentais as manifestações e mobilizações da Via Campesina realizadas
em Curitiba, no Paraná, em torno da discussão das sementes Terminator. "A
ministra Marina Silva ficou contente com o apoio que os camponeses têm
dado ao seu governo e à sua luta", afirma.