Em jogo, campos opostos de modelos de produção
Agronegócio e agroecologia são projetos antagônicos. Enquanto um beneficia somente as empresas transnacionais e o latifúndio, incentivam a monocultura de exportação e o uso de agrotóxicos, o outro liberta o agricultor e assegura a soberania alimentar da nação.
A discussão sobre os modelos de produção agrícola brasileiros permeou o terceiro dia de atividades do Acampamento Terra Livre de Transgênicos, onde estão reunidos mais de cinco mil trabalhadores rurais em Pinhais, região metropolitana de Curitiba (PR).
Segundo Frei Sergio Görgen, deputado estadual do PT no Rio Grande do Sul, e integrante da Via Campesina desde a década de 1980, cada modelo tem maneiras de atuação bem delineadas e trabalham em nome de interesses que se opõem socialmente. Para ele, a primeira grande diferença está no modelo tecnológico de produção.
“Se de um lado, o agronegócio se utiliza de insumos químicos, os pilares da agricultura familiar são água, solo, sol e sementes”, afirmou. Segundo Görgen, a agricultura a base de pesticidas, herbicidas e fungicidas é sustentada pela indústria química, muitas vezes associada ao mercado de remédios. “A Monsanto, por exemplo, é ligada à gigante farmacêutica Pfizer. Os ricos não se importam com os químicos, pois podem se tratar”, reiterou.
Outra característica do agronegócio apontada por Görgen é a predominância do plantio de grãos, que compõem cerca de 80% dos alimentos. “Em primeiro lugar, os grãos são estocáveis. Depois, utilizados como matéria-prima em muitos produtos. Além disso, se configuram como produtos típicos de exportação. Como se não bastasse, esse domínio é prejudicial à saúde humana, pois reduz a base alimentar a cinco tipos de grãos: soja, arroz, trigo, milho e girassol”, concluiu.
Sobre a luta contra a tecnologia Terminator, travada nas discussões da COP-8 (8ª Conferência Internacional sobre Diversidade Biológica), o parlamentar classificou o ato de guardar sementes como “revolucionário”.
“As grandes empresas querem o deter controle de ponta a ponta: da semente ao produto no mercado. Para deixar de tomar calote pelo não pagamento de royalties, elas vieram a Curitiba para impor a semente suicida”.
Ao final da atividade, Frei Sérgio elencou os alicerces do projeto agroecológico: a desconcentração de terras, a organização camponesa, o estímulo à biodiversidade, a luta por políticas públicas, uma matriz energética sustentável e que esteja nas mãos do povo e, principalmente, a soberania alimentar.
“Dia desses, o frango ficou barato no Brasil por causa do temor dos países para os quais exportamos em relação à gripe aviária. Tinha frango com embalagem escrita em árabe nos supermercados! É preciso fazer com que nossa comida seja barata sempre, alimentarmos primeiro a todos os brasileiros. Se sobrar, exportamos”, defendeu.