Cultura camponesa e a participação das mulheres

2006-03-27 00:00:00

“Resgatar a agricultura camponesa é um dos grandes desafios das mulheres”, afirma Marli Bambrilla, assentada em Portal do Tigre, na cidade de Querência do Norte, noroeste do Paraná. Integrante do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) desde o início do movimento, Brambrilla se baseia no cotidiano para discutir o papel da mulher nas zonas agrícolas, na conservação da cultura e na organização das organizações populares.

De acordo com Brambrilla, a manutenção da cultura camponesa depende diretamente da atuação da mulher na sociedade, que é um elemento que une a família. A figura feminina é responsável na maioria dos casos pela educação e pelos valores transmitidos aos filhos. Essa influência se reflete em todos os âmbitos, inclusive na agricultura. “Envolvendo-se na agricultura familiar, a mulher consegue variar muito mais os cultivos na propriedade. Quando fica somente nas mãos do homem, geralmente a produção vira monocultura”, reflete.

A manutenção da cultura do campo também deve ser priorizada na escola. No processo de globalização do capitalismo, em que as características locais são substituídas por culturas exteriores e modismos, a educação tem a sua importância potencializada. “Antes nas escolas do interior nossas crianças falavam da cultura e dos hábitos do campo. Agora se vestem de caubóis, imitando a novela das oito”, afirma.

Vergonha

A saída apontada por Brambrilla para que o camponês não perca sua identidade é manter firme o orgulho da sua própria cultura e origem. “Quando a gente fala em agricultura camponesa, muitos acham que é algo ultrapassado. Mas o que precisamos entender é que ela é um modo de produção dentre tantos outros, que possui suas características próprias”, argumenta.

Além de se conscientizar disso, é preciso que o agricultor preserve o modo de vida camponês. Isso implica em voltar a consumir o que produz, sem se deixar levar pela pressão comercial e da propaganda das indústrias. “A gente vende o leite para as empresas por um preço baixíssimo e depois compra o iogurte industrializado porque é mais bonito, mais moderno”, critica.

Para a trabalhadora rural, a presença feminina é imprescindível nos movimentos populares para os movimentos sociais avançarem na luta política. “Os espaços, dentro dos movimentos estão se abrindo para as mulheres. Devemos nos superar e ocupá-los”, finaliza.