Terminator vai escravizar indígenas, diz líder colombiano
A território da Colômbia apresenta 85 povos indígenas com diferentes línguas, diferentes formas de pensar e de ver o mundo. Do total, 60 povos resistem a cultura branca e ainda falam a língua materna, mas os outros perderam e se misturaram com os brancos. Ainda são indígenas e sofrem a mesma violência, que expulsa famílias do campo e leva para a miséria nas grandes cidades.
O indígena Guambiano da Colômbia, Lorenzo Muelas, é uma referência no seu país e para o seu povo. Em 1991, aconteceu uma revisão da Carta Política colombiana. Lorenzo era senador e participou na Assembléia Constituinte da elaboração da Carta de Navegação, o documento mais importante do país.
“Penso que todos os problemas tem que ser resolvido mediante diálogo, normas e leis. No entanto, os governos atribuem às transnacionais um papel mais importante, favorecendo um capitalismo selvagem que elimina os indígenas”, afirma.
Com a experiência parlamentar, Lorenzo passou a compreender a importância do diálogo com a sociedade e da legislação. No entanto, avalia que as leis relacionadas à questão indígena na Colômbia não são respeitadas pelos governos nem transnacionais.
“Estão nos violando. Querem seguir violando as normas que nos defendem. Na prática real, os povos indígenas sofrem com a expulsão, assassinatos e com a perseguição. Por isso, precisamos denunciar o que acontece no meu país uma vez que somos reconhecidos pela carta política colombiana”, explica.
Leia a seguir a entrevista com o indígena colombiano Lorenzo Muelas.
Por que é preciso lutar contra as transnacionais, que desejam transformar os elementos da biodiversidade, como as sementes, em mercadorias?
Sou representante dos povos indígenas da Colômbia e estamos aqui em Curitiba para que os governos entendam a gravidade do que está acontecendo. Queremos bloquear as experiências científicas das transnacionais com sementes. Em 1992, patentearam os genes de sangue indígena e começaram o saqueio dos povos indígena com suas investigações. Querem seguir também com os animais, vegetais e com tudo. Queremos proteger a perpetuação da natureza para impedir o grande dano que isso vai nos causar no futuro, que é demasiado significativo. Queremos que os técnicos, cientistas e governos entendam que parem com essa ânsia de poder que humilha os povos indígenas puramente por um selvagem capitalismo que eles inventaram.
O que as sementes representam para os povos indígenas?
Nós, os povos indígenas da Colômbia, de toda a América Latina e todo o mundo, consideramos as sementes como algo muito significativo e importante. Nelas estão a vida de todos nós, da sociedade e dos homens. Em escala de importância, primeiro vem a terra, em segundo as sementes e, em terceiro, o homem e a mulher indígena, que têm manejado a terra e utilizado as práticas agrícolas há vários mil anos. Por isso, sabemos que onde estão os territórios indígenas estão os deuses e os espíritos, a quem pedimos permissão para tirar nossos alimentos dos bosques e cultivar as plantas. Pedimos permissão à natureza para consumi-la. Por isso, é que as sementes são muito importantes. As sementes trazem a essência da vida. No momento em que desaparecem, teremos uma terra vazia e desocupada. É preciso conservar a semente e seguir mantendo até os últimos anos de vida na Terra. Precisamos ensinar às próximas gerações para que sigam perpetuando, manejando, produzindo e consumindo as sementes. Afinal, este é o ciclo de vida que torna nós, homens, e o meio ambiente, parte da mesma natureza.
Quais as conseqüências do uso de sementes Terminator para as comunidades indígenas?
Terminator vai escravizar os povos indígenas. Por milhares de anos, fizemos inovações e melhoramentos nas sementes. As sementes Terminator vão obrigar os indígenas e os camponeses a comprar as sementes vendidas que são supostamente melhoradas. Não queremos que nossas sementes terminem. Pelo contrário, vamos perpetuá-la para vivermos neste planeta terra por mais 10, 20, 30 mil anos.
Como vocês enxergam os transgênicos?
Consideramos que os transgênicos vão nos causar muitos danos. Será uma interrupção do desenvolvimento que viemos manejando há milhares de anos. Nada nos garante que os transgênicos não causarão danos. Tudo isto está para ser constatado. Temos muita desconfiança em relação ao dano que vai causar às sementes e aos outros seres humanos.
Em que situação vive o indígena colombiano?
A situação do indígena na Colômbia é muito grave e delicada. Primeiro, porque vivemos em confronto permanente com a violência dos grupos armados e do Exército Oficial do governo. Muitos indígenas deixam o campo e seguem para as grandes cidades, onde caem na pobreza, pedindo dinheiro para as pessoas nas ruas para comer. As mulheres, com seus filhos nos braços, caminham pelas ruas pedindo esmolas. É isso que se vê em todas as cidades. A situação da agricultura e da pecuária, sem os indígenas e os camponeses trabalhando nelas, está muito grave. A Colômbia tem 45 milhões de habitantes. Nós, indígenas, somos hoje apenas um milhão. Isso é resultado da política de Estado de extermínio dos povos indígenas.
Como mudar o quadro de violência?
Esperamos que algum dia acabe essa violência, que somente terminará quando o Estado dialogar com os grupos armados. Assim como faz com outros países, o governo tem que fazer com os grupos armados. Isso permitirá que os povos indígenas regressem aos seus lugares de origem e retomem a prática da agricultura para viver. Ao mesmo tempo em que saímos do campo, perdemos a nossa identidade e pensamento. Nossa cultura está desaparecendo. Por isso, os indígenas precisam voltar ao campo para retomar as sementes, a terra e a sua identidade de indígenas.