diz sindicalista argentino
Luta contra fábricas de celulose deve ser coordenada e simultânea
Para o sindicalista Luiz Bazán, do Sindicato de Obras Sanitárias de Córdoba, na Argentina, e da Comissão Popular pela Recuperacao da Água, a luta contra as fábricas de celulose na América Latina deve ser coordenada e simultânea em todos os países periféricos. "Nós concordamos plenamente com a ação das mulheres da Via Campesina contra a Aracruz Celulose", afirma, nesta entrevista realizada durante o Fórum Internacional em Defesa da Água, que terminou neste final de semana, na Cidade do México. Ele também analisa o conflito entre Argentina e Uruguai, por causa da instalação de duas fábricas de celulose no país vizinho. "O Primeiro Mundo está pretendendo trazer para os países pobres tudo que é contaminante e predatório, o que gera conseqüências criminosas de destruição dos recursos naturais e de prejuízo à saúde pública", completa.
- Como está o processo de luta na Argentina contra as fabricas de celulose?
Em primeiro lugar, a luta dos movimentos ambientalistas foi o fator dispara dor e conscientizador, que gerou o alerta sobre a instalação das fabricas filandesas e espanholas, próximo ao rio Uruguai, na fronteira entre Uruguai e Argentina. Posteriormente, com uma tomada de consciência rápida pelos setores médios da população e também nos setores populares, a luta adquiriu um caráter genuinamente massivo e de uma oposição organizada, com uma capacidade de ação direta muito importante. Isso demonstra duas coisas. Primeiro, que os governos dos dois paises, pretensamente progressistas, terminaram sendo vítimas da imposição de políticas unilaterais destas empresas multinacionais, chegando ao nível lamentável de começarem a desenvolver um nacionalismo facistoide, que poe em risco a harmonia e a boa relação histórica entre os dois paises. Por isso, devemos reorientar a analise do problema. O que se deve compatibilizar são os interesses dos dois povos, ou seja, preservar seus recursos naturais, o que é um objetivo comum. O que se deve é impor respeito às multinacionais e, logicamente, não ha possibilidade de harmonia entre os interesses, de maximização dos lucros das multinacionais, que trazem conseqüências depredatórias gravíssimas, com os interesses de preservação dos recursos dos povos.
- E quais são as organizações sociais que participam desse movimento?
Inicialmente, foram as organizações ambientalistas nacionais, e também algumas internacionais. No entanto, logo depois, começaram a se somar organizações comunitarias, de direitos humanos, estudantis, e setor governamentais que se envolveram e assumiram esta defesa dos recursos naturais. Isso gerou uma articulação, que sustenta os protestos, os bloqueios de estrada, exigindo o fim das construções das transnacionais.
- A invasão das fábricas da celulose não é um fenômeno novo na América Latina?
Creio que é um problema histórico. Desde mais de duas décadas, há uma política das multinacionais, que antes podiam exercer sua ação depredatoria impunemente em seus países de origem. Ao serem criadas leis mais restritivas contra a contaminação nesses países, as empresas desenvolveram uma estratégia de instalação nos chamados paises perifericos. As florestas de eucalipto, usadas para fabricar as pastas de celulose, já estão instalados há 15 ou 20 anos em alguns países, como é o caso da Argentina, do Chile e do Brasil, que têm plantações de eucaliptos de centenas de milhares de hectares, que hoje são coroadas com as fabricas de pasta de celulose. Portanto, esse é um problema antigo, que se tornou visível para a opinião pública por causa da ação eficaz e oportuna das organizações ambientalistas.
- No dia 8 de marco, 2 mil mulheres da Via Campesina do Rio Grande do Sul realizaram uma ação contra a Aracruz Celulose. O que o senhor pensa sobre isso?
Nós tomamos conhecimento sobre a ação, através da imprensa e de redes na Internet. Acusaram as mulheres de depredadoras, porque haviam destruído uma serie de plantas, sementes transgénicos, etc. Nós concordamos plenamente com a ação das mulheres, porque acreditamos que deva haver uma luta coordenada e simultânea, com eixos e objetivos comuns, de todas as organizações populares da América Latina, porque o Primeiro Mundo está pretendendo trazer para os países pobres tudo que é contaminaste e predatório, o que gera conseqüências criminosas de destruição dos recursos naturais e de prejuízo à saúde pública.