Com Zapata, camponeses mexicanos lutam contra as barragens

2006-03-21 00:00:00

Cidade do México - Sob a sombra do Monumento à Revolução, na Cidade do México, um pequeno grupo de camponeses mexica nos do estado sulista de Guerrero, formado majoritariamente por senhores e senhoras da idade avançada, grita para quase ninguém: "Zapata vive! A luta segue!"

A luta a que se referem é a verdadeira epopéia, que eles mesmo empreendem contra a construção da barragem de La Parota, que pode inundar 17 mil hectares, expulsando da terra cerca de 25 mil camponeses e afetando outros 75 mil. A baixa assistência no largo em frente ao monumento não reflete a capacidade de resistência do grupo. "O Governo diz que serão poucas pessoas afetadas, mas não é verdade. Querem esconder que somos muita gente", indigna-se o camponês Julián Sisneiros, 53 anos, morador da região de Los Huajes, que fica acima do lugar onde será construída a represa. Portanto, um dos que perderão suas terras. Ao to do, serão 24 povoados atingidos pela inundação, e outros 36 que serão afetados pela diminuição do fluxo de água no curso do rio, o que inviabilizaria a agricultura na região.

O Conselho dos Ejidos de Comunidades Opositoras da Represa de La Parota (Cecop) denuncia a Comissão Federal de Eletricidade (CFE), órgão do Governo Federal, de promover assembléias com a comunidade, para discutir a construção da represa, fora da comunidade. A CFE paga 3 mil pesos para cada pessoa que se dispuser a participar da assembléia e aplaudir. "Em poucas palavras, compram consciências", resume Sisneiros.

Em contrapartida, os camponeses da região atingida estão organizados e impedindo os trabalhos da CFE. Existem postos de vigilância espalhados pela região. Por ali, não têm acesso nem funcionários dos governos federal e estadual, nem a polícia. "Com a nossa luta, a população está se dando conta de que a CFE é uma mentira. Eles estão sem apoio", afirma o camponês, para quem a resistência do povo praticamente já impediu a construção da represa de La Parota.

Encontro

A luta contra La Parota não está isolada no México. Julián Sisneiros lista uma série de casos de barragens que foram construídas, algumas há mais de duas décadas, cuja população afetada até hoje não recebeu indenização. Construída há três anos, a represa de Petacalco atingiu milhares de agricultores, que até agora não recebeu nada, embora o presidente Vincent Fox declare que já ter pagado as indenizações.

No contexto do IV Fórum Mundial da Água, movimentos camponeses e indígenas mexicanos organizam um e ncontro dos atingidos pelas barragens, que terminou neste sábado, na Cidade do México.