Governo do México boicota encontro paralelo, denunciam movimentos sociais
Cidade do México - Por volta da 1h da madrugada deste sábado, agentes federais do serviço de imigração mexicano entraram em um hotel da cidade, onde estão hospedados diversos militantes sociais que participam das atividades paralelas ao Fórum Mundial da Água, com uma "ordem de inspeção e verificação migratória". Os agentes obrigaram os funcionários do hotel a abrir todos os quartos. Os estrangeiros que estavam hospedados tiveram de apresentar os passaportes e vistos de permanência no país.
"É mais uma prova de que o Estado mexicano está criminalizando nossas atividades", afirmou o advogado Lois Macias, do Centro de Direitos Humanos Miguel Agustín Pro Juárez (Centro Prodh). Ele apresentou a denúncia na tarde deste sábado, na plenária do Fórum Internacional em Defesa da Água.
É o segundo caso parecido que acontece desde o começo dos eventos na Cidade do México. Na quinta-feira, no primeiro dia tanto do encontro oficial quanto do encontro paralelo, 26 pessoas foram presas durante a marcha realizada pelas organizações ambientalistas e pelos movimentos sociais. O confronto com a polícia, por parte de ativistas black blocks, ganhou as páginas de todos os jornais mexicanos na sexta-feira.
Em entrevista coletiva realizada no mesmo dia, os organizadores da marcha, ao mesmo tempo em que afirmaram que não compactuaram com a atitude dos ativistas, que não fazem parte da organização do encontro, declararam estar desconfiados de uma possível ação de boicote por parte do governo mexicano. Homens infiltrados na marcha, vestindo camisetas brancas e calças verdes, teriam provocado os manifestantes. "Jovens foram atacados por homens trajando roupas civis. Não podemos afirmar quem eram essas pessoas", declarou Ana Maria Marinez, do Centro Prodh. "É possível que tenha havido algum tipo de infiltração", afirmou José Velásquez, membro da Coalizão de Organizações Mexicanas para o Direito à Água (Comda).
Os organizadores do Tribunal Latino-Americano da Água, que termina no dia 20, já haviam denunciado, antes do começo do evento, que as autoridades mexicanas estavam impedindo a entrada de estrangeiros que dariam testemunhos no júri popular.
Repercussão na imprensa
Extremamente conservadora, grande parte da imprensa local faz questão de desqualificar a manifestação dos "globalifólicos", como escreveu um articulista do jornal El Milenio. "No dia seguinte, não encontrei nenhuma imagem que conseguisse expressar a grandiosidade que foi nossa marcha", reclamou o venezuelano Santiago Arconada, que comparou o caso ao poder de manipulação da imprensa da Venezuela.
À exceção do diário La Jornada, que faz uma cobertura ampla, porém critica, do Fórum Mundial da Água, e abre espaço para o debate dos movimentos sociais, os demais veículos de imprensa do México procuram ignorar ou desqualificar as atividades paralelas, dando destaque ao evento oficial. "Estão tentando convencer as pessoas que todos são favoráveis à privatização da água", apontou Miguel Valencia, ativista da Cidade do México.