As mulheres agem pela Reforma Agrária durante a conferência da FAO
As mulheres da Via Campesina em Porto Alegre (RS) se mobilizaram contra o modelo de agricultura neoliberal e da monucultura. Exigimos que nossos governos tomem iniciativas concretas através da FAO (Órgão das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura) para implementar uma reforma agrária genuína e integral.
A declaração final da FAO hoje não pode ser considerada inteiramente legítima tendo em vista a baixa presença e a ausência de representantes do alto escalão dos governos na conferência. No entanto, é válido o início e a retomada dessa discussão.
A FAO deveria colocar a reforma agrária como um ponto central de sua agenda e promovê-la na arena internacional. A FAO é a instituição internacional legítima para a regulamentação dos alimentos e da agricultura e esse tema é muito crucial para ser deixado nas mãos da Organização Mundial do Comércio e outras instituições do comércio. A OMC deve ser retirada das negociações da agricultura.
A Via Campesina conclama a FAO a cumprir o seu mandato democrático de servir ao povo. Até quando esse mandato for cumprindo, estamos preparados para trabalhar como parceiros no processo para uma reforma agrária genuína.
A FAO deve reconhecer a contribuição histórica dos movimentos sociais ao conduzir reformas agrárias, considerando-os atores necessários e valiosos no processo.
Após fortes protestos e resistência no Norte, as corporações internacionais de celulose transferiram sua produçãso contaminante e a monocultura do eucalipto para o Sul, inclusive o Brasil. A monocultura do eucalipto desaloja camponeses em escala maciça, criando pobreza e miséria, convertendo o solo que é adequado para a produção de alimentos em desertos verdes. Esse cultivo causa um dano irreversível ao solo e torna impossível qualquer produção agrícola no futuro. Ele destrói os recursos naturais que são essenciais para a população local.
No dia 8 de março, o Dia Internacional da Mulher, as mulheres da Via Campesina enviaram uma forte mensagem contra o desastroso desenvolvimento da monocultura do eucalipto pela indústria de celulose e a favor da soberania alimentar. A ação na Aracruz teve a intenção de alertar a opinião pública e ajudar a deter essa invasão agressiva e destrutiva. Por essa razão, a Via Campesina apóia integralmente essa ação.
Pedimos que a FAO coloque o seu plano de ação em prática, estabelecendo um Programa Especial de Reforma Agrária com a participação dos governos para a sua implementação e financiamento.
A Via Campesina conclama uma mobilização por uma verdadeira reforma agrária e irá acompanhar de perto a situação no Rio Grande do Sul, em alerta contra qualquer ameaça ou intenção de repressão contra as nossas organizações pelos governos locais ou estaduais, ou mesmo do setor privado por termos feito essa ação, que é legítima e necessária.