Conferência da FAO deve ser início do debate

2006-03-06 00:00:00

A 2ª Conferência Internacional sobre Reforma Agrária foi realizada de forma precipitada e, por isso, não pode ter caráter conclusivo. Essa é a posição da Via Campesina Internacional, apresentada em entrevista coletiva na tarde deste domingo (05/03), em Porto Alegre. A organização considera positiva a discussão sobre Reforma Agrária promovida pela FAO (Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação), mas questionam a sua forma de organização, que foi feita às pressas - o que prejudicou a participação e, conseqüentemente, a qualidade do debate e das propostas que podem ser tiradas durante o encontro.

"A Conferência não deve divulgar nenhuma carta de princípios ou encaminhamentos. Ela deve servir como um espaço para acúmulo de conhecimento e integração entre os diversos camponeses do mundo, vislumbrando um próximo encontro, mais articulado, para daqui há 3 ou 4 anos", defende Egídio Brunetto, do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Ele aponta a pouca participação de chefes de Estado e o baixo número de países representados como indícios da falta de representatividade do encontro. "Isso é grave, porque demonstra a falta de interesse dos governos em fazer a Reforma Agrária", completa.

A Via Campesina acredita que não houve, no processo de construção da conferência, um acúmulo de discussão sobre Reforma Agrária nos mais diversos países, que envolvesse. "O povo do campo não sabe da existência dessa Conferência", afirma o hondurenho Rafael Alegría, integrante da organização camponesa Cococh.

Reforma Agrária de mercado

Na coletiva, a Via Campesina reiterou suas críticas ao modelo de reforma agrária do Banco Mundial. Para a organização, a instituição se baseia no financiamento da compra de áreas, e não na desapropriação dos latifúndios, o que acaba transformando a terra em mercadoria. A canadense Nettie Wiebe, da National Farmer Union, relatou a trágica experiência promovida pelo Banco Mundial no Canadá, um dos países considerados como laboratório de suas políticas. "Atualmente, mais de dois terços das famílias camponesas deixaram a terra. As que restaram, estão endivididas e empobrecidas, mesmo apesar da grande produtividade do país", contou. Somente em 2005, mais de dois mil camponeses da região de Bangalore, no sul da Índia, suicidaram-se devido às dívidas com financeiros.

Rafael Alegria afirmou que a questão da terra é um problema mundial. Nesse sentido, a Via Campesina está lançando a Campanha Global pela Reforma Agrária, a qual envolve organizações camponesas da Ásia, da Europa e das Américas. "Na campanha, além da importância da reforma agrária, denunciamos a criminalização dos movimentos sociais pela estrutura policial e pelos governos", relata. Na campanha, a responsabilidade dos governos em adotar a reforma agrária como ação política dos Estados também estará presente. "Nesse momento, há ocupação de terra em todas as regiões do mundo. Por isso, pedimos a Lula que faça a reforma agrária logo, e também reforçamos o recado a Evo Morales, presidente da Bolívia. Afinal, a fome não espera", conclui.