Foro Mundial pela Soberania Alimentaria. Fevereiro de 2007
Declaração das mulheres pela Soberania Alimentar
Nós, mulheres procedentes de mais de 40 países, de distintos povos autóctones, da África, América, Europa, Ásia e Oceânia e de diversos setores e movimentos sociais, estamos reunidas em Sélingué (Mali), no marco de Nyéléni 2007, para participar na construção de um novo direito: o direito à soberania alimentar. Reafirmamos nossa vontade de atuar para mudar o mundo capitalista e patriarcal que prioriza os interesses do mercado acima dos direitos das pessoas.
As mulheres, criadoras históricas de conhecimentos na agricultura e na alimentação, seguem produzindo em torno de 80% dos alimentos nos países mais pobres e que hoje são as principais guardiãs da biodiversidade e das sementes crioulas, se encontram especialmente afetadas pelas políticas neoliberais e sexistas.
Nós sofremos as conseqüências dramáticas destas políticas: pobreza, insuficiente acesso aos recursos, patentes sobre a vida, êxodo rural e migração forçada, guerras e todas as formas de violências físicas e sexuais. Os monocultivos, incluindo aqueles consagrados aos agrocombustíveis, assim com a utilização massiva de produtos químicos e organismos geneticamente modificados, tem efeitos negativos sobre o meio ambiente e sobre a saúde humana, em particular, sobre a saúde reprodutiva.
O modelo industrial e as transnacionais ameaçam a existência da agricultura camponesa, a pesca artesanal, a vida pastoril, assim com a fabricação artesanal e o pequeno comércio dos alimentos nos meios urbanos e rurais, setores onde as mulheres desempenham um papel importante.
Queremos que a alimentação e a agricultura saiam da OMC e dos acordos de livre comércio. Mas também, rechaçamos as instituições capitalista e patriarcal que concebem os alimentos, a água, a terra, os conhecimentos dos povos e o corpo das mulheres como simples mercadorias.
Colocando-nos na luta por igualdade entre os sexos, não queremos usufruir mais nem da opressão das sociedades tradicionais, nem das sociedades modernas, nem do mercado. Queremos aproveitar esta oportunidade para deixar para traz todos os prejuízos sexistas e desenvolver uma nova visão de mundo, construída sob os princípios de respeito, igualdade, justiça, solidariedade, paz e liberdade.
Estamos mobilizadas. Lutamos pelo acesso à terra, aos territórios, à água e às sementes. Lutamos pelo acesso ao financiamento e a equipamentos agrícolas. Lutamos por boas condições de trabalho. Lutamos pelo acesso à formação e a informação. Lutamos por nossa autonomia e pelo direito a decidir por nós mesmas, assim como a participar plenamente nas instâncias de tomada de decisões.
Olhando Nyéléni, mulher da África que desafiou as normas discriminatórias, que brilhou por sua criatividade e por sua produtividade agrícola, encontraremos a energia necessária ao direito à soberania alimentar, portadoras da esperança para construir outro mundo. Esta energia, a buscamos em nossa solidariedade. Levaremos esta mensagem a todas as mulheres do mundo.
Nyéléni, 27 de fevereiro de 2007