Mensagem de Evo Morales

2008-10-20 00:00:00

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La Paz, 17 de Outubro de 2008

Irmãs e irmãos
Conferência Internacional da Via Campesina
Maputo – Moçambique

Irmãos (as): As inúmeras atividades que tenho agora como Presidente da Bolívia, impedem-me de estar com vocês, como sempre é o meu desejo. Cada vez que me informam sobre suas atividades,reuniões, seminários e conferências, encho-me de nostalgia, porque como fundador da Via Campesina, gostaria de estar com vocês debatendo os problemas que temos como setor.

Entretanto, estarão em Maputo representantes da Bolívia, meus irmãos, que agora me ajudam a lutar por uma Bolívia unida, acima de tudo igualitária, sem racismo, sem discriminação. Um país onde não mais existam cidadãos de primeira ou de segunda, todos com os mesmos direitos e obrigações, com as mesmas possibilidades de estudar e ter acesso à saúde, onde os serviços básicos não sejam um negócio privado, mas um direito humano.

Por esta razão ponho para consideração, com muito respeito, a proposta que apresentei à ONU, a mesma que consiste em um decálogo para salvar o mundo, a vida e a humanidade, contendo idéias de como mudar a “dívida” externa para dívida ecológica, acabar com os biocombustíveis ou a privatização da água, energia elétrica, educação, saúde, comunicação e transportes, apostar numa cultura da “unidade na diversidade”:

Decálogo para salvar o mundo, la vida y la humanidade”

Primeiro: As mudanças climáticas não são produtos dos seres humanos em geral, mas do sistema capitalista vigente, baseados em um desenvolvimento industrial sem barreiras. Há que se acabar com a exploração dos seres humanos e com o saqueamentos dos recursos naturais. O Norte deve pagar a dívida ecológica em vez dos países do sul pagarem-lhe a dívida externa.

Segundo: A guerra traz ganâncias para os impérios, para as transnacionais e para um grupo de famílias, mas implica em morte, destruição e pobreza para os povos. Os milhões de dólares destinados às guerras deveriam ser investidos na terra, ferida pelo maltrato e pela super-exploração.

Terceiro: Alcançar relações de co-existência, não de submetimento entre os países, num mundo sem imperialismo nem colonialismo. As relações bilaterais e multilaterais são necessárias porque somos favoráveis à cultura do diálogo e da convivência social.

Quarto: A água é um direito humano e de todos seres viventes do planeta. Pode-se viver sem luz, mas não sem água. A água é a vida. Não é possível que haja políticas que permitam privatizar a água. Por uma convenção internacional da água para proteger as fontes como um direito humano e evitar sua privatização.

Quinto: Desenvolvimento de energias limpas e amigáveis com a natureza, acabar com o desperdício de energia. Em 100 anos teremos acabado com a energia fóssil formada ao longo de milhões de anos. Evitar que se promovam os biocombustíveis. Não se pode reservar terras para fazer funcionar carros de luxo em lugar de alimentos para os seres humanos.

Sexto: Nenhum “perito” ou especialista pode debater com os dirigentes indígenas sobre o respeito à Mãe Terra. O movimento indígena deve explicar a outros setores sociais, urbanos e rurais, que a terra é nossa mãe.

Sétimo: Os serviços básicos, como água, luz, educação, saúde, comunicação e transportes devem ser considerados como um direito humano. Não podem ser um negócio privado porque são um serviço público.

Oitavo: Consumir o necessário, priorizar o que produzimos e consumir o que seja local. Acabar com o consumismo, o desperdício e o luxo. Não é compreensível que algumas pessoas somente busquem o luxo enquanto milhões vêm-se privados de uma vida digna. Enquanto milhões de pessoas morrem a cada ano de fome, em outras partes do mundo milhões de dólares são destinados para combater a obesidade.

Nono: Promover a diversidade de culturas e economias. O movimento indígena, que sempre esteve excluído, está apostando pela unidade na diversidade. Um estado plurinacional, do qual todos fazem parte deste Estado, brancos, morenos, negros e loiros.

Décimo: Não é nenhuma novidade o viver bem. Trata-se, apenas, de recuperar a vivência de nossos antepassados e acabar com o modo de pensar que fomenta o egoísmo individualista e sede de lucro. Viver bem não é viver melhor a custa do outro. Devemos construir um socialismo comunitário e em harmonia com a Mãe Terra.
Esta quinta conferência de Maputo reunirá, segundo me informam, a mais de 500 lideranças camponesas, de mais de 70 países. Sua importância está principalmente nas contribuições que vocês darão para tentar resolver a atual crise dos alimentos que afeta vários países do mundo, sobretudo América Latina, onde muitos produtores fazem grandes esforços para evitar uma maior crise agrária, afetada também pelos problemas financeiros, climáticos e ambientais.
Quero aproveitar a situação para expressar minha maior solidariedade no trabalho e na luta que vocês têm encabeçado por quinze anos, e desejar-lhes os maiores êxitos em suas deliberações para aprovação das futuras linhas de ação na luta contra o capitalismo e a criação de um novo modelo de produção agrícola sustentável.
Com minhas maiores considerações, os envio lembranças revolucionárias

EVO MORALES AYMAPresidente Constitucional da Republica da Bolívia