Apesar da repressão, camponeses colombianos seguem na resistência

2006-01-28 00:00:00

A eleição de Evo Morales na Bolívia e o processo de mudanças sociais em
curso na Venezuela são indícios de que a América Latina tem a chance de
enfrentar mudanças na correlação de forças políticas. Mas em alguns
países a
intensa repressão aos movimentos sociais, prejudica a luta dos
movimentos
sociais, que seguem resistindo.
É o caso da Colômbia, onde o governo de Alvaro Uribe, aliado aos
interesses
imperialistas, tenta cotidianamente minar as forças sociais no país. "O
ambiente para os camponeses na Colômbia, segue sendo caótico. Mas mesmo
assim continuamos resistindo e elaborando propostas claras no que diz
respeito à reforma agrária", afirma Mabel Andrade da ANUC-UR
(Associação
Nacional de Usuários Campesinos Unidade e Reconstrução).

Em entrevista à Minga Informativa, a dirigente fala também da
conjuntura
política do país que, neste ano, terá eleições.

Minga: Como está a conjuntura da reforma agrária na Colômbia, que
possui um
governo aliado ao imperialismo, marcado pela criminalização das lutas
sociais?

Mabel Andrade - Em meu país, seguem acontecendo a repressão e
criminalização
dos movimentos sociais, assim como assassinatos de lideranças e a
expulsão
dos camponeses de suas terras. O processo de concentração da terra nas
mãos
dos paramilitares e do narcotráfico também continua. Não existe lei de
reforma agrária e, com o governo Uribe é dificíl que ela venha
acontecer. O
ambiente para os camponeses permanece caótico. Mas mesmo assim
continuamos
resistindo e elaborando propostas claras no que diz respeito à
democratização da terra.
Uma delas, o mandato agrário, que foi construído por muitas
organizações,
constitui uma proposta de se criar uma real política de reforma agrária
em
nosso país, que saia do papel porque não há vontade política de
democratizar
a terra no país. A outra proposta é o congresso itinerante organizado
pelos
companheiros indígenas do Departamento de Cauca. Mesmo com o ambiente
desfavorável, há muitas propostas caminhando, assim como nossas lutas
seguem, continuamos colocando nossas propostas.
Em Cauca, região ocidental da Colômbia, está prevista a liberação de 12
áreas de terra e a tarefa é liberar mais e concientizar os movimentos
do
país de que a questão da terra não é uma bandeira apenas dos
camponeses, mas
de todos. E de que reforma agrária não significa apenas ter acesso a
terra.

Minga:Quais são as perspectivas para as eleições deste ano na Colômbia?

Mabel Andrade - Em março teremos eleições no Congresso e, em maio para
presidência.
Hoje os movimentos colombianos estão pensando qual a proposta
alternativa a
ditadura velada que vivemos no país. Há grandes chances deste governo
se
reeleger, porque utiliza muitos mecanismos para defender seus
intereses,
inclusive os meios de comunicação e o paramilitarismo. Está em curso
uma
propostas do movimentos de discutir qual o candidado da esquerda mais
ainda
não chegamos à um acordo único.
Vamos tentar assegurar pessoas comprometidas com o povo na Câmara, mas
é
difícil por causa de todo esse contexto.

Minga: Para que a reforma agrária aconteça, é preciso a pressão dos
movimentos sociais e o compromisso do governo em torná-la política
pública.
É possível que isso ocorra na Colômbia?

Mabel Andrade - Nós, os movimentos sociais, em conjunto, elaboramos um
projeto de Reforma Agrária que foi construído entre as organizações
camponesas e que foi para o Congresso onde há parceiros dos camponeses.
Fizemos muita mobilização para que ele fosse aprovado, mas infelizmente
a
força da direita no Congresso foi maior e o projeto não passou. Agora
está
se propondo um novo projeto que necessita de parlamentares
comprometidos com
o povo que o defenda. Entretanto, somos conscientes que temos que
articular
e mobilizar. O principal ponto é que na Colõmbia acontece uma coisa
muito
particular: não são todos os movimentos que estão de acordo em
participar da
luta eleitoral. Há organizações que não querem entrar nesta área. Isso
dificulta que os movimentos se articulem e indiquem um nome para
defender
suas reivindicações.