Trabalhadores marcham contra a crise em São Paulo

2009-03-31 00:00:00

 
"Ou param as demissões, ou paramos o Brasil", bradaram integrantes das principais centrais sindicais, partidos de esquerda e movimentos sociais e estudantis, em marcha nesta segunda-feira(30) em São Paulo, no Ato Internacional Unificado contra a Crise. Assim como em outros Estados, a ação integrou o Dia Nacional de Luta contra a Crise e as Demissões.

Os trabalhadores, com suas diversas bandeiras, tambores e gritos, reafirmaram que não pagarão pela crise econômica mundial, e pediram o fim das demissões em massa que vêm ocorrendo desde o início do ano.

“Os culpados desta crise são os banqueiros, são as transnacionais e esta política neoliberal do estado mínimo. Nós não aceitamos responsabilizar os trabalhadores, e não aceitamos que os trabalhadores paguem pela crise. Não aceitamos desviar recursos públicos para salvar os bancos e para salvar as empresas”, declarou Luis Bassegio, secretário continental do Grito dos Excluídos nas Américas e coordenador da Assembléia Popular.

A manifestação, que segundo os organizadores contou com cerca de 15 mil pessoas, teve início em frente à sede da Federação as Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), na Avenida Paulista, e culminou na Praça Ramos, no centro da capital.

Edson Carneiro, conhecido como Índio, da Intersindical, contou que a principal bandeira dos trabalhadores é deixar claro que eles não pagarão pela crise. Também pedem que cessem as demissões, que se reduzam os juros praticados no país, que haja o aumento de investimentos públicos em favor da população e em defesa dos direitos trabalhistas e sociais, e que se realize de fato a reforma agrária no Brasil.

Índio ressaltou a importância da união de todas as entidades que defendem os direitos dos trabalhadores nesse ato. "Estamos contentes com esta manifestação, que é um marco da unidade de setores diversos em uma mesma luta". Para ele, esta ação é "a demonstração de que os trabalhadores não vão aceitar essa situação" e um primeiro passo para a organização de uma jornada de lutas nacionais contra a crise. "O próximo passo agora é organizar a luta e construir o Dia Nacional de Luta, com uma mobilização geral", destacou o sindicalista.

No mesmo sentido, José Maria de Almeida, o Zé Maria, presidente nacional do PSTU e membro da coordenação nacional da Conlutas (Coordenação Nacional de Lutas), saudou a união das centrais sindicais e dos movimentos sociais e estudantil nessa luta, e defendeu a criação por parte do governo de uma lei que proteja os direitos dos trabalhadores frente à crise, que ele classificou como a "pior" que o sistema capitalista já causou.

Política econômica

Durante o percurso, os líderes das entidades discursaram sobre os problemas que a crise tem trazido aos trabalhadores e como os movimentos de trabalhadores devem lutar contra eles.

"Essa crise, companheiros, é desse sistema que procura o lucro máximo a cada dia e não quer saber dos trabalhadores, dos povos, do combate à fome e do combate à miséria. E é contra isso que nós nos levantamos nesse dia de manifestação para dizer que não vamos pagar por ela, para dizer que nós vamos exigir, aqui no Brasil, que o governo enfrente com coragem a crise. Vamos pedir aos nossos politicos e aos setores empresariais que tenham coragem de lutar pelo crescimento do país e de criarem empregos, e que tenham coragem de reduzir essa vergonhosa taxa de juros e democratizar o conselho monetário nacional, que precisa ter a presença do povo e dos trabalhadores na sua composição", declarou Nádia Campeão, presidente estadual do Partido Comunista do Brasil (PCdoB), em frente à sede do Banco Central em São Paulo.

Igualmente, Ubiraci Dantas de Oliveira, vice-presidente da Central Geral dos Trabalhadores do Brasil (CGTB), criticou a política econômica adotada no Brasil, com o emprego das mais altas taxas de juros do mundo, o que, segundo ele, prejudica a vida do trabalhador e de toda a população. "Nós estamos aqui nessa luta contra a alta dos juros e pela redução das taxas de juros". O líder sindical chamou os trabalhadores a lutarem para que este quadro seja revertido. Pediu, ainda, a saída do presidente do Banco Central, Henrique Meireles. "Esse é o momento da gente intervir na economia do nosso país, nós não aceitamos que aquele sujeito que está na presidência do Banco Central continue a resistir, não querendo baixar as taxas de juros num patamar menor que 2%. Nós temos os juros mais altos do planeta, isso não pode continuar dessa forma", protestou.

Moradia

Em frente à Caixa Econômica Federal, Guilherme Boulos, do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), falou sobre o problema da moradia e questionou o destino do dinheiro do pacote habitacional anunciado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva no último dia 25. “Nós queremos saber se essas casas vão ser para os trabalhadores que precisam, ou se esse projeto vai ser mais um para enriquecer as empreiteiras ou para aquecer a indústria da construção civil. E queremos saber quando que estas casas vão sair”. Segundo o líder do MTST, o movimento já tem o seu calendário de lutas pronto para este ano.

Wanderley Gomes da Silva, diretor de comunicação da Confederação Nacional das Associações de Moradores (Conan), afirmou que pela convicção de que a crise afeta todas as camadas da sociedade, a Conan somou-se ao ato desta segunda-feira. “Este é o momento de unificar o campo, a cidade, o setor produtivo, as mulheres, a juventude e a intelectualidade progressista, porque a crise afeta o conjunto dos trabalhadores e trabalhadoras do país”, completou.

Diversidade

O ato foi marcado pela diversidade de movimentos presentes. A juventude esteve presente e participou de forma ativa da manifestação através dos movimentos estudantis, como a União Nacional dos Estudantes e a União Brasileira dos Estudantes Secundaristas.

O movimento de mulheres também marchou em defesa dos direitos dos trabalhadores, representado pela União Brasileira de Mulheres (UBM), a Federação das Mulheres Paulistas (FMP) e a Confederação das Mulheres do Brasil (CMB).

O campo também esteve presente na manifestação, através do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST). Jaqueline dos Santos, militante do MST, contou que por solidariedade aos trabalhadores e em defesa do emprego estava ali marchando, representando o campo na luta dos trabalhadores.

Da mesma forma, José Carlos, que é mordomo e integrante da Força Sindical, relatou que, apesar de trabalhar em uma área que não foi afetada pela crise, decidiu marchar pelos trabalhadores que tem perdido seus empregos.

Participaram do ato as centrais sindicais: CUT, Força Sindical, CTB, UGT, Nova Central, CGTB, Conlutas e InterSindical, além de entidades estudantis e comunitárias, movimentos sociais, sem-terra e sem-teto, juventude, mulheres e partidos políticos - PCdoB, PSTU, Psol, PT e PDT.

- Michelle Amaral, da Redação de Brasil de Fato